O Mundo ao Lado
Entrevista com Arthur Simões
por
Al Andrich
24/5/2019

Arthur Simões nasceu em São José dos Campos, SP, é formado em Direito pela Universidade Mackenzie. Em 2006 deu início ao projeto Pedal na Estrada, uma volta ao mundo de bicicleta, percorrendo sozinho 46 países, em 5 continentes. Voltou ao Brasil em 2009, após 3 anos e 2 meses de viagem. Lançou o livro O Mundo ao Lado, sobre sua viagem, realizou exposições de fotografias e atualmente trabalha com fotografia, viagens e segue em busca de novos destinos.

 

WAS – Como surgiu a ideia de você fazer volta ao mundo de bicicleta?

Arthur Simões – A ideia surgiu deforma despretensiosa e natural. Pedalo desde criança e a bicicleta já teve diferentes papéis nessa trajetória. Começou como instrumento de liberdade na infância, virou meio de transporte, esporte, hobby e durante a faculdade se tornou uma forma de viajar e conhecer novas culturas. Foi nessa época, enquanto realizava roteiros aqui no Brasil, que soube de um alemão que estava concluindo sua volta ao mundo de bike e custei a acreditar que aquilo era possível. Ficava imaginando como seria fazer uma viagem daquelas. Daqueles devaneios surgiu o embrião da minha viagem e com o tempo ele amadureceu e se tornou um projeto mais consistente, pronto para ser executado. Em paralelo a isso, há também o aspecto do autoconhecimento e questionamentos, que eu acredito ser uma busca que acompanha a maioria dos viajantes.

Humauaca, Argentina, 2006.

WAS – Do ponto de vista pessoal, o que é necessário para elaborar um projeto desse tipo? Como ter a certeza que que ele poderá realmente ser executado e finalizado?

AS – Para mim, perseverança e humildade são os elementos fundamentais para se começar e concluir um projeto. Acreditar nele é essencial para que vire realidade, mas estar aberto a sugestões, colaborações e adaptações é tão importante quanto. É muito provável que a pessoa ao elaborar um projeto se depare com uma série de obstáculos, como falta de dinheiro, tempo, parcerias, capacidade técnica, conhecimentos específicos e uma série de outras coisas. Aqui entra a perseverança, pois em alguns momentos pode parecer que nada dará certo e tudo está contra essa empreitada. Há que lembrar que nunca é fácil e só aqueles que não desistem e acreditam firmemente no que estão propondo chegam a algum lugar. Passada essa fase há a execução do projeto. Aqui não há certezas, especialmente quando um projeto trata de desafios ou um grande aventura. O risco está quase sempre presente e o que pode ser feito é um bom planejamento e preparo para que os riscos sejam minimizados. Isso aumenta as chances de que o projeto seja finalizado, mas não é uma garantia. Quando uma pessoa vai para a natureza, muitas vezes está lidando com o desconhecido e o inesperado.

 

Wadi Rum, Jordânia, 2008.

WAS – Como foi o preparo?

AS – O preparo foi menos físico e mais burocrático do que costumam imaginar. Como o Pedal naEstrada – nome do projeto da volta ao mundo de bicicleta – era um projeto longo e relativamente complexo, que envolvia diversos parceiros institucionais, apoios e patrocinadores, nos meses que antecederam minha partida eu estava mais envolvido em deixar tudo ajustado para a partida do que em treinar minhas pernas. Como não havia treinado o quanto eu gostaria, comecei a viagem percorrendo distâncias mais curtas, justamente para meu corpo se adaptar, e em pouco tempo já percorria distâncias bem maiores do que eu achava que conseguiria.

 

Templo de Amritsar, Índia, 2007.

WAS – Todos dizem que essa parte burocrática é a mais difícil. Como você lidou com isto? Em algum momento teve dúvidas sobre a viabilidade do projeto?

AS – A parte burocrática é bem difícil, o projeto pode depender dela e fica claro que a realização não depende só de você, mas de outras pessoas, empresas, organizações e governos. É complexo, mas acredito que com humildade e perseverança possa ser realizado. Há que ter humilde para admitir que o projeto precisa ser alterado e lapidado ao longo dessa jornada e perseverança para não desistir, mesmo quando tudo parece não dar certo. Em vários momentos achei que não conseguiria os patrocínios e parcerias que precisava, mas nunca desisti. Estava disposto a fazer a viagem com ou sem patrocínio, isso me ajudou a sempre seguir em frente e lidar com as dificuldades. Após algum tempo, vi que o toda a energia que havia colocado no Pedal na Estrada (projeto de volta ao mundo de bicicleta) havia dado resultado, era hora de tirar o projeto do papel e cair na estrada.

WAS – Como foi elaborar o roteiro, selecionar os países?

AS – O roteiro foi o início de tudo. Quando resolvi que iria dar a volta ao mundo de bicicleta, sabia o que queria realizar, mas ainda não tinha ideia por onde começar. Inicialmente, me debrucei sobre o roteiro da viagem. Juntei alguns atlas que meu pai tinha, consegui mapas com amigos, cacei livros em bibliotecas e comecei a traçar detalhadamente a rota que iria realizar. Não me limitei por critérios rígidos ou alguma diretriz específica. Queria criar livremente o meu roteiro e para isso quanto menos limitações eu tivesse, melhor seria. Muitas vezes, ao percorrer o mapa, chegava a um país que eu não conhecia, como foi o caso de Mianmar, no Sudeste Asiático, e isso me animava ainda mais a inseri-lo em minha rota. Em linha gerais, a rota foi traçada entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, para evitar com que eu me deparasse com invernos muito duros e não precisasse carregar os pesados equipamentos para temperaturas negativas.

 

Escoltado pelo exército, Iêmen, 2008.

WAS – Esta foi uma solução inteligente para afastar o perigo de climas mais extremos. O que mais você conseguiu prever que te ajudou quando estava em expedição?

AS – Acredito que uma boa seleção dos equipamentos foi algo que me ajudou muito. Bolsas a prova d’água, fogareiro para diversos tipos de combustível e itens de acampamentos versáteis e leves fizeram a viagem ficar mais fácil em alguns momentos. Mesmo assim todos esse planejamento não é garantia de nada, em alguns momentos peguei frio extremo, como nos Andes, calor extremo no Deserto do Saara e as monções noSudeste Asiático. Mesmo assim imaginava que iria me deparar com situações do tipo e estava um pouco preparado para isso.

Desfiladeiro do Nilo Azul, Etiópia, 2006.

WAS – Você já tinha a previsão de realizar a viagem durante três anos ou ficou mais tempo do que o previsto?

AS – Estimar a duração de uma viagem como essa é sempre um desafio; é impossível prever tudo que irá acontecer. Sabendo disso, tracei uma estimativa curta e outra longa. A maior tinha 2 anos e meio de duração. Ambas passavam por 28 países. No final da viagem, havia viajado por 3 anos e 2 meses e percorrido 46 países. Foi muito positivo para a viagem, mas passou longe até da minha estimativa mais otimista. Nunca me preocupei tanto em me ater ao roteiro que havia desenhado, sabia era só uma referência e não deveria ser mais que isso, caso contrário poderia ofuscar as principais características de uma viagem autêntica: a imprevisibilidade e liberdade. Uma longa viagem tem vida própria. Para ser bem executada, essa característica deve ser compreendida e mantida, caso contrário há o risco de se realizar toda a jornada de forma mecânica, indo do ponto A ao B e depois ao C, como numa missão ou um trabalho. Acredito que viajar seja ir além disso, é especialmente se abrir para a vida que está em toda parte e isso não combina como mecanicidade.

 

Estrada alagada, Índia, 2007.

WAS – Muitos aventureiros sempre tiveram dificuldades em fechar patrocínios pela característica mais aleatória de certas aventuras. Você acha que isso está mudando? Como foi com você? Acha que hoje seria diferente de quando fez a sua volta ao mundo?

AS – Acho que conseguir patrocínio sempre foi algo difícil e pelo o que eu vejo, hoje não mudou muito.Esse tipo de relação não depende só do aventureiro e de seu profissionalismo, depende também do momento da economia do país, da rede de contatos que ele tem e, sempre, de um pouco de sorte para estar na hora certa no lugar certo. Para mim foi bastante difícil também, mas sabendo dessa dificuldade e que dificilmente alguém patrocinaria apenas um projeto esportivo no Brasil, fiz com que o Pedal na Estrada fosse maior que isso. Assim criei um projeto educacional para os estudantes brasileiros, algo que seria realizado enquanto eu viajava. Fiz parcerias com diversas ONGs e isso deu muita consistência ao projeto. A partir daí o Pedal na Estrada começou a chamar a atenção, o que facilitou minha conversa com diversas empresas e me abriu muitas portas. Naquele momento apostei na inovação e na realização de algo novo e inusitado, era uma volta ao mundo de bicicleta – algo raro no Brasil até então – somada a um projeto educacional diferente, tudo isso usando o que havia de melhor de tecnologia naquele momento. Isso fez com que o projeto se destacasse. Hoje o mesmo projeto não teria o mesmo impacto, pois não seria assim tão diferente e desbravador.Para ter o mesmo sucesso que tiver teria que pensar em outras estratégias para atingir os mesmos objetivos: levar o projeto para muita gente, ajudar o maior número de pessoas possível e desenvolver algo inovador, que ninguém fez ainda.Não é fácil, mas isso pode ser a diferença entre um projeto que acontece e outro que não sai do papel.

 

Giza, Egito, 2008.

WAS – Quais as melhores experiências que você teve e as maiores dificuldades?

AS – Acredito que as melhores experiências estejam ligadas a me sentir em harmonia com o local onde eu estava e para isso ocorrer eu dependia especialmente das pessoas de cada região. Quando eu me sentia acolhido e bem recebido em determinada cidade ou vilarejo, ficava mais fácil desenvolver uma relação mais profunda com o local onde estava. O oposto também é verdadeiro e faz referência às grandes dificuldades do caminho. Outra dificuldade era ficar doente, geralmente devido à comida – que era o meu combustível –, num lugar distante.

Punjab, Pasquistão, 2007.

WAS – Onde se sentiu mais acolhido e onde foi mais rejeitado? (Se é que podemos usar esse termo?) Consegue ilustrar duas situações desses extremos?

AS – O mundo árabe, ao contrário do que as pessoas costumam pensar, costuma ser o lugar mais acolhedor para viajantes. Quanto mais muçulmano, maior o acolhimento. Talvez tenha sido por isso que no Iêmen eu fui melhor recebido. Nos pequenos vilarejos por onde passava e pernoitava, geralmente era recebido com festa e agrados. Encontravam alguém que falava inglês para se comunicarem comigo, tiravam água dos poços artesianos para que eu pudesse tomar banho – e olha que estavam no meio do deserto, onde água era um luxo – e preparavam um banquete para mim numa casa que separavam para eu dormir. Era algo difícil de acreditar de tão impressionante. Até hoje guardo memórias muito boas desse país e seu povo. Em contrapartida, não longe dali, apenas no outro lado do Mar Vermelho estão os países onde não fui bem recebido. Tanto do Djibuti quanto na Etiópia, as pessoas me recebiam com pedras nos vilarejos. Bastava verem que não era dali que pegavam atiravam pedras em mim. Sei que tinham seus motivos, assim, sempre tentei não julga-los por isso, mas a sensação de ser recebido com pedradas não era agradável, ainda mais quando se está sozinho num lugar desconhecido e distante.

Montanhas, Turquia, 2008.

WAS – Quais as histórias inesquecíveis que ouviu pelo caminho?

AS – Acredito que cada local e cada pessoa tenham pelo menos uma história interessante para contar, basta saber escutar e observar. Tentava fazer isso com cada lugar onde eu ia.Me perdia pelas vielas de uma cidade de mais de 5 mil anos e até me encontraria aprendendo a ler e escutar a história que seus sinuosos caminhos me contavam. Com as pessoas não era diferente, quase todos tinham uma história interessante para contar para quem quisesse ouvir. Por vezes eram histórias de superação e aprendizado, em outros casos de dificuldades e até milagres. O principal, eram histórias de verdade, de pessoas de verdade, histórias que provavelmente não leremos e nem ficarão registradas para a posteridade. Acredito que esse tipo de vivência seja um contraponto interessante à sociedade do espetáculo em que vivemos, onde a aparência e a imagem prevalecem sobre a realidade, como se algo fosse feito apenas para ser contado e não para ser vivido. Não se sabe mais oque é verdade e o que é inventado.

Escolta 24hs por dia, Paquistão, 2007.

WAS – Pode contar uma dessas histórias que mais te marcaram para os nossos leitores? Como acha que a comunidade aventureira pode atrair mais a atenção da mídia para estas histórias/vivências reais?

AS – No mundo há milhões de heróis, artistas e pessoas incríveis que vão morrer sem reconhecimento. Sempre foi assim e continuará sendo. Para encontrar tais pessoas, suas histórias e talentos basta ter abertura e sensibilidade. Lembro-me de um senhor no Paquistão que salvou diversos turistas em sua casa de um possível atentado de um grupo extremista, mesmo que para isso tivesse colocado sua segurança em risco. Essa é uma história simples, que passa desapercebida. Hoje, as pessoas buscam histórias espetaculares em lugares incríveis e quase sempre mostram a mesma coisa; e esquecem que na maioria das vezes temos exemplos incríveis ao nosso lado.

 

Madalay, Mianmar, 2007.

WAS – Existe algum destino que você mais se identificou?

AS – Me identifiquei com Mianmar, Iêmen e o norte do Paquistão. São países não muito conhecidos e permanecem relativamente fechados para o mundo. Por terem se isolado, mantiveram seus valores e culturas preservados. São sociedades muito diferentes do padrão ocidental, um padrão presente em quase todo o mundo atualmente. A autenticidade dessas sociedades me conquistou, nada era para atrair turistas ou ganhar mais dinheiro nesses locais.

WAS – Da mesma forma, houve algum país ou local específico com o qual tenha se decepcionado?

AS – Não houve apenas um, mas diversos. Talvez a maior decepção tenha sido com a Índia, um país que sabia que tinha diversos problemas, mas que esperava que fosse minimamente espiritualizado, em função de tantas histórias. No entanto, o que eu encontrei lá, para a minha surpresa, foi um país duro, sofrido, de muita desigualdade e repleto de charlatães e aproveitadores. A espiritualidade se tornou um negócio muito lucrativo para os indianos.

Persépolis, Irã, 2007.

WAS – Quais conselhos você repassa para quem deseja viajar de bicicleta pelo mundo?

AS – Não pense muito e nem espere que tudo esteja perfeito para partir. Marque uma data de partida, faça o seu melhor para planejar a viagem e quando chegar o dia comece com o que tem, depois a viagem irá acontecer da forma que tem que acontecer e, ao final, você terá feito uma viagem única, a sua viagem. Se ainda há dúvidas, basta lembrar do ditado que diz que “o universo conspira a favor dos viajantes”. Acredito que isso seja verdade para os verdadeiros viajantes, aqueles que estão dispostos a abrir mão daquilo que têm para verem o mundo.

 

Lago Titikaka, Peru, 2006.

WAS – Qual foi o maior aprendizado de viajar sozinho?

AS – Viajar sozinho proporciona uma abertura muito maior para absorver e aprender sobre cada cultura visitada. Sozinho fica mais fácil se desprender de toda bagagem cultural e social que está impregnada em cada um como se fosse a única correta, para observar sem muitos julgamentos e aprender com culturas diferentes. Subjetivamente, viajar sozinho mostra que é possível, desde que se esteja bem consigo próprio, estar bem em qualquer lugar. É a prova de que o mais importante não é simplesmente o que é visto, mas sim como aquilo é visto e absorvido. A partir do momento que se está bem internamente, tudo à sua volta também está bem e não há problema que não possa ser superado.

 

Punjab, Paquistão, 2007.

WAS – Em algum momento pensou em desistir?  

AS – Confesso que nunca pensei em desistir. Não por ser durão ou coisa do gênero, mas por sempre achar que estava no lugar certo e fazendo o que tinha que ser feito. Essa certeza fazia com que eu não duvidasse da minha viagem e nem alimentasse comparações com outras possibilidades, como viajar de carro ou de moto ou mesmo ter seguido a profissão de advogado, por exemplo. Quase todos os dias acordava feliz por estar realizando aquela viagem e por poder pedalar por mais uma nova estrada. Até mesmo os maiores problemas eu encarava como possibilidades de aprendizado e isso os deixavam como se fossem parte integrante do caminho e não um obstáculo.

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Em um cânion dessa envergadura e desse nível técnico, o ideal é que estivéssemos em uma equipe mais enxuta, o que evitaria atrasos que um grupo maior, por natureza, causa. Meu dupla e eu estávamos na condição de supervisores/mentores de 5 atletas recém formados em um curso de nível avançado, que maturavam suas técnicas nessa aventura. O ponto de encontro foi a cidade de Passos/MG e o atraso na saída foi inevitável. A fazenda que iria nos receber às 7h me contatou informando que só poderia abrir suas porteiras às 9h. Ao chegar, um dos integrantes preferiu não entrar no cânion, já imaginando os problemas causados pelo atraso, e ficou como apoio na base. Repassamos a logística num briefing, subimos a estrada em 2 veículos 4x4, ficando um na entrada do cânion e o outro regressando à base para monitorar nossa progressão através do dispositivo de satélite/GPS. 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Mas acessar essa ancoragem era outro risco, já que é bem exposta e com acesso escorregadio. A equipe então teria que instalar um corrimão de acesso e, toda vez que se necessita instalar um grampo o processo costuma demorar, principalmente à noite. Uma chuva forte passou pelo cânion e achamos melhor pausar a atividade e nos abrigar. Parecia que não tínhamos escapatória e teríamos que bivacar. Estávamos preparados para isso, mas as temperaturas esperadas eram bem baixas e o desconforto era certo. Aliás, eu já estava com muito frio, pois estava parado, aguardando as ancoragens. A chuva parou às 20h, uma bela lua cheia apareceu e eu preferi incentivar a turma a continuar. No último rapel a equipe teve problemas na recuperação da corda. Ela travou e, mesmo montando um sistema de redução para tracionar, não resolveu. Baixa nesse equipamento que tivemos que deixar. Seguimos pela madrugada por mais trechos de águas bravas e flutuação por enormes corredores. 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Pelo Sertão do Rosa
Sobre este relato: Há uma aventura literária filosófica acontecendo embrenhada no interior de Minas Gerais chamada O Caminho do Sertão, de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas. Em 2019 terá sua 6ª edição. Um trajeto de 180km percorrido por mais de 100 pessoas vindas de áreas e lugares e culturas completamente diversos. Inicia em Sagarana, primeiro local de assentamento em Minas Gerais, distrito criado em homenagem e inspirado por João Guimarães Rosa. E o caminho vai até o Parque Grande Sertão Veredas, em Chapada Gaúcha. Sete noites acampadas, cada qual em um lugar perdido de existência, por baixo de um céu 5 milhões de estrelas. Fomos nos banhar no Urucuia, o rio do amor do livro do Rosa. Tanta e toda vida acontecida logo ali. Montar barraca ao anoitecer, desmontar antes do amanhecer. Mais que encantador, é um momento de reflexão da vida, de tudo que nos cerca, pois que cercados de sertão e de pessoas do sertão é fato que iremos nos questionar de como vivemos a cidade. Eu fui selecionado para a 3ª edição desta caminhada – sim, há um edital, você precisa querer muito ir passar esse perrengue existencial maravilhoso e ser selecionado, além de custear sua alimentação e transporte – e imediatamente após voltar derramei um relato desta aventura. Segue aqui o texto e o convite a repensarmos a revolução necessária ao meio ambiente, a nossa casa toda.‍Meu caminho pelo sertão do RosaOra pois no ôxi então! Vem! Né! Espiaaaaa....Caminho que o senhor fez foi caminho árduo dificultoso no então do ido, foi que foi? É que não. É que é travesso, de serpentina de poeira e rodamoinho de pé-de-valsa no baldio da multidão dos andantes que só e pó. É que foi. Um no depois do outro, o mundo indo, outros lugares. Assim, de passo dado feito mãos dadas. Roda de ciranda e de preparo do corpo pro pro-ir. Eu fui. O outro eu fui. Os outros fui. Eu fui em todos que foram. Todos me foram. Nós então agora somos. Caminhamos o caminho do sertão em terceira edição. Haja amanhã pra tanto hoje, houve. Teve.Rumei trecho. Saído dos loucos na cidade, entre as rosas e os campos, as vertentes, os também gerais, as bárbaras cenas rumo arriba. Sete. Setecentos. E setenta. E sete. É. Pareceu pirraça de brincadeira. Mas foi o GoogleMaps o pierrot dessa picardia. Foram esses os quilômetros (entre) a minha Barbacena e a nossa Sagarana. O meu Ponto de Partida.Esse texto bobo é para cumpliciar com vosmecês a fadiga do meu peito que brinda escrivinhadura com o contar das experiências do andarilho maltrapilho que me rodopia dentro do peito. Um sete em cada panturrilha, a pois! Sete centímetros cada, na idade dos 34 anos (3 + 4 é sete outra vez), na ida da virada do setênio nos 35! Arre! Eles falam. Eles dizem. A cabala, a astrologia, a numerologia, a crise dos casais, as profecias e os anjos deve que dizem também, ou não, pelo contrário.E o meu Ponto de Partida é o grupo de teatro. Todo meu de nosso. Daqui também dos loucos artistas criadores de vida. E o segredo maior do meu sonho-delírio que lhes conto: a música, O Amanhecer, cantarolado por Daiana e assobiado por Gustavo. É canção composta pelo moço conhecido, o tal Fernando Brant, que configurou no desenho do rabisco a letra tendo de contraponto a melodia composta pelo moço que faz do violão uma orquestra, o sinhô Gilvan de Oliveira. A música, cantada em vez primeira pelo pequeno Pablo Bertola, aos 5 anos, foi trilha de um espetáculo belo chamado O Beco, que diz que “quem é do Beco, é seco é pau, por milagre fica em pé. Quem é do Beco não é bom nem mau, sete vidas, tem na fé.... quem tem amigos na vida... está mais perto de ter Deus!”. E aí, que quando ouvi a Daiana, às 04 do dia, meus olhos abriram achando que até a abertura deles era ainda o sonho indo.Vosmecês e vosmecêsas exculpem esse jeito meu de falar do quintal da minha rua, é que é nele que eu entendi que é tudo casa, até a casa nua despida de cidade que é o sertão todo. E eu fui indo né, com vocês, com eles, sendo guiado pela vontade do peito de buscar rumo sem rumo, indo fondo, igual o andarilho que eu criei para perambular mundo. É que ir é o mesmo que o estar, só que sendo de bicicleta, um pouco mais rápido que o passo, um pouco mais lento que o tudo. É ir fondo mesmo.Nos tempos em que li o Grande Sertão do Guimarães eu tive epifanias. De que tudo que precisa ser escrito, dito ou compreendido estava ali. Um relicário precioso. Um baú de Pandora com a capsula do tempo mesclados, feito Deus e o diabo. E encontrar a um bando contatado para travessar juntos foi a mais honesta forma de realizar um sonho que um homem em seu meio caminho de tempero de vida pode encontrar com honestidade. Ver a literatura ganhar folhagem e a folhagem ser o cenário da ficção mais real que já li. Compreender a força pungente e arguta da arte em se fazer parte da vida cotidiana de todos os tipos de gentes (entre) as boas-ruins-boas e as doutas-sábias-rotas. A arte da ficção impelindo ao mundo as verdades!! Maravilha de viver, compreender e perceber. O que as cabeças idealizaram em primeira mão, os corpos sedimentaram em segunda ida. A nós, a alma. Insuflada nos corpos de pó, poeira e terra seca. A água das lágrimas, do suor e do carro de apoio fizeram de nós a massa primeira ancestral da criação. A realização em realidade da filosofia mitológica do barro que cria. E o sertão ali, sorrateiro-pleno, acordado inteiro, insuflando ventinhos para dentro de nós.Entrar ali é entrar em duas dimensões gigantes estando no mesmo lugar. O sertão de todos, o sertão do Rosa. Para transitar de um ao outro sem enlouquecer ao som do vento a gente tinha como que a pausa da existência, o recitar do homem que leva a palavra de Guimarães no beiço, Elson. E para a alma, os guias. De uns, o sol, outros a lua. A estrelaiada é a constelação de anjos para eles. O comandante Fidel dos jagunços urbanejos do sertão, a docilidade no homem em riste que abre os caminhos e garante a ida, a abertura de trincheira, os esclarecer dos matos. O guia celeste, aquele que nos une ao céu em puro, o Célio. O Bergue, nosso xamã curandeiro clérigo guia, que cuida de nossas colunas fingindo que alinhava os pés pelas bolhas, generosidade em abundância guardada dentro de castanhas de baru. O baru! Esse que melhora o colesterol, dá força e juventude, alegria aos casais e alimento a tantos. O guardião da retaguarda do bando, o que aceita o arrematar a travessia, o garantidor dos rastros, a salvação dos observadores mais aprofundados na arte do caminhar sem a pressa da dúvida, o Fanta. O homem um, o um em tantos, o cantador de aboios que nos lembra o ontem e nos faz pensar o amanhã, e sua presença é já. O Jao. E onde há guia, há discípulo dos caminhos. Como lã de carneiros que, na juventude, já vem para nos proteger, compreendendo nos passos tantos os rumos dos do ano que vem, a Lana. E aquele, o famigerado, o estapafúrdio, o sem beiradas de comparação, o papa-léguas do sertão, que tanto admiro, o seu Agemiro. É como o mago supremo talhado em resiliência e arguido em cacto. Importa pouco a secura do mundo, o que ele guarda dentro é água em nascente. Assentados, em beirada de pedra na cachoeira do churrasco eu perguntei a ele pedindo: “Seu Agemiro, fala-me, por favor e obséquio, algo de sabedoria de vida?” – ao que ele me olha, sem a pestana cintilar e me solta para os peitos: “Você quer uma receita? Toma café da manhã, almoça e janta. Pronto. Assim você sobrevive”. É. O sertão. Eu admiro. Resguardo as dúvidas e finjo exibir só as certezas, ele que se mostre para me carcomer entre sol e lua, e guias e setes e amanheceres. Eu sou puro ruminar.E da alma, os guias. Dos seres humanos, a astrologia, a psicologia e a escola de carinhos que o sertão foi. As cachoeiras de reabastecimento dos cantis de dentro. O terreno! Esse faz de cuscus com obra mal queimada em comida guardada de terceiro dia! Sim! O terreno! Pior em cada passo, tenebroso a cada dia. Com um tanto de íngreme a mais que o joelho não mede, mas a coxa caleja. O areal! A areia. Percebem? Os nossos passos ali são os anos! Todos! Um mais pesado que o outro, e depois do outro, mais areia!! E mais areia e poeira e espinhos novos, des-inventados ainda um mês atrás, certeza tenho! A-há!! O sertão diz! Gargalha de bocejar do óbvio que pra si ele deve que ser talvez. Nós caímos na pegada do sertão. Quando melhorou, pareceu, o buraco veio. Não. O buraco foi. Eita. O buraco ali, é paradoxo, porque é um só e é todos. O buraco vão com a gente! O vão dos buracos, o canto mais resguardado de nascente de rio é o maior labirinto pros pés, os olhos, os ouvidos e as águas. É....... as águas. Quem, tendo vivido, visto, ido, bebido, cheirado, benzido e curado há de ter coragem carecida para decidir escrever em linhas o que é a tal dela? A famigerada. A que salva os dois pontos do título do livro do Rosa. Por favor. Se alguém explicar o que é a vereda, conta-me não. Porque para mim ela só pode ser família. O resto é mato.O sertão, moços e moças. Guardou minha alma. Ele não pediu. Não pactuei. Ela foi sendo ele. E é. Achei que não tinha voltado, que o corpo não queria dar o download. Foi não isso. Foi nada. É que de antes de ir até agora que fui eu estou é indo. E vou. Até que fui.A você, qualquer um que careceu de ter coragem de chegar até aqui, ou loucurinha mesmo, obrigado por ter caminhado em lado mais eu. Você me ampliou por me fazer horizonte seu. Isso eu amo.Até mais ver.
Volta na Ilhabela
Type image caption here (optional)‍Eu frequento a região de São Sebastião no litoral norte de São Paulo desde meu nascimento. Minha família tem casa em Barequeçaba e passei minha infância toda olhando para a Ilhabela, do outro lado do canal, como sendo algo intangível e muito distante.Lembro de quando eu tinha uns 5 anos sempre brincar com uma prancha de isopor juntamente com o meu irmão e sair batendo os pés, cantando alto para a minha mãe escutar, dizendo: “Nós vamos para a Ilhabela, Nós vamos para Ilhabela…” Nos afastávamos poucos metros e ela nos trazia de volta para o “raso”. A gente dava risada e adorava a ideia dessa aventura impossível.Eu me sentia tão a vontade no mar que aos 10 anos de idade, meus pais acharam que eu precisava de um estímulo maior e o meu presente de Natal foi um caiaque de fibra de vidro, enorme, feito para adultos mesmo. Eu ia para remar sozinho, a poucos metros da praia e conforme o tempo foi passando, me arriscava a ir cada vez mais longe. Aos poucos a Ilhabela foi ficando mais “perto” e na adolescência, junto de um amigo mais velho, resolvi cruzar o canal, e de lá para cá fiz isso incontáveis vezes, e nas mais diversas condições: com onda, muito vento, mar de ressaca e até durante a noite.‍Natal aos 10 anos de idade1993 aos 15 anos e a Ilhabela ao fundo‍A nova fronteira para mim, como foi aos 5 anos de idade cruzar o canal, se tornou dar a volta completa na Ilhabela toda remando. Era tão inatingível naquele momento como era na brincadeira da prancha de isopor.Ao longo dos anos fui ganhando mais experiência em remadas longas, em equipamentos, tipos de barcos, campismo, expedições (tanto no mar como na montanha). Fiz longas remadas no meu quintal de casa, a volta da Ilha Grande, e uma remada solo de 6 dias de Paraty até Barequeçaba entre o Natal e a virada do ano de 2017-18. Após essa expedição tive a certeza que tinha chegado a hora de tentar a volta da Ilhabela, eu me sentia no equilíbrio ideal entre: físico, mental e conhecimento técnico.E 1 ano e 3 meses depois, aos 40 anos de idade, com uma vida completamente renovada, uma super companheira ao meu lado e uma filha recém nascida de 30 dias, comecei a remada. Entrei no mar, me despedi dos meus 2 amores e emocionado, comecei a cantar para mim mesmo: “Nós vamos para Ilhabela, Nós vamos para Ilhabela” ‍Saindo de BarequeçabaDistancia: 25,90kmDuração: 5h18 (com parada de 20 minutos no Veloso)Velocidade média: 5km/hCruzei os 4,6km do canal até a praia do Veloso em 45 minutos. À poucos metros da praia tem um lindo parcel de pedras e corais que me fez ficar alguns minutos tirando fotos antes de encostar na areia. Foram 20 minutos fazendo o double check de tudo antes de seguir para a parte pesada da remada desse primeiro dia, que era o trecho Veloso – Praia do Bonete. Daqui para frente não existem mais praias para descansar ou se abrigar, e virando a Ponta da Sela, porta de entrada do Canal de São Sebastião, eu entraria em mar aberto, muito mais exposto ao vento e as ondulações.Segui firme, virei a Ponta da Sela e apesar de ter um pouco mais de vento e ondulação, as condições estavam ótimas para remar. Mas 30 minutos depois comecei a me sentir mal, enjoado e sonolento. Como se eu estivesse de ressaca e bem mais cansado do que eu estaria normalmente… Demorei um pouco para entender o que estava acontecendo, mas aí caiu a ficha. Era a falta de sono acumulada dos últimos 30 dias por ter um bebê recém nascido em casa!‍‍Foi uma luta remar até o Bonete. Cheguei morto, quando desci do barco não conseguia abrir a mão para soltar o remo, por causa de uma câimbra no ante-braço, decorrente do movimento errado que eu estava fazendo para remar em virtude do cansaço.Comecei a questionar se conseguiria continuar no dia seguinte… Normalmente o primeiro dia de uma expedição sempre é mais traumático, a gente está mais ansioso, dorme pouco na noite anterior, sofre mais para seu corpo se acostumar e para a sua mente entrar em sintonia com tudo, mas essa vez foi realmente intenso!‍‍‍Deixei o surfski na areia e fui direto para um quiosque que aparentava ter o que comer. Pedi um PF de peixe fresco e enquanto eles preparavam, eu comi uma lata de salada de batata com atum, estava morto de fome! O Tarciso, dono do quiosque, inclusive ofereceu a sua casa para eu guardar o barco. Muito boa gente.Bom, meu plano foi comer bem, deitar cedo, dormir o máximo possível. E sem pressão, esperar acordar no dia seguinte para sentir como eu estaria e assim seguir o não.‍Decidi ficar em um Hostal e não acampado essa noite justamente para dormir bem. Além disso nesse mesmo dia um amigo que eu e a Marcela fizemos na nossa expedição de carro pela América do Sul chegaria nesse Hostel hoje e eu aproveitei para revê-lo.Segundo dia: Praia do Bonete – Praia de Indaiaúba – Saco do Eustáquio‍Distancia: 33,05kmDuração: 5h30 (com parada de 5 minutos em Indaiaúba)Velocidade média: 6km/hAcordei as 6:00 da manhã me sentindo muito bem! Apesar do calor infernal e dos borrachudos – não existia ventilador no quarto – eu consegui dormir 10 horas, e estava incrivelmente renovado! Preparei meu café da manhã: omelete desidratado, café com leite, pão integral com pasta de amendoim e saí do Hostal. Antes passei em uma pousada que possuía internet para tentar falar com a Marcela e ouvir um pouco a voz da Gabi. Falar com a Má foi a injeção de energia final que eu precisava para entrar no mar com a motivação necessária para enfrentar o que supostamente seria o trecho mais difícil de toda a circum-navegação da Ilhabela: Cruzar a Ponta do Boi e a Ponta da Pirabura.O dia estava lindo, sem vento e sem ondulação. Comecei a remar com o primeiro objetivo de parar na Praia de Indaiauba, que como no dia anterior seria a última parada antes do desafio longo de hoje. Foram 6 km em 45 minutos, e serviu para eu ter certeza que estava bem.‍‍‍Indaiaúba é uma das praias mais lindas da Ilha, se não a mais linda. Tem uma cor de água bem especial, sempre super cristalina e possui uma pequena cachoeira no canto esquerdo que praticamente deságua no mar. A única questão é que essa praia foi “privatizada” por um condomínio de luxo. Tem cameras e seguranças para todo o lado e isso quebra um pouco a magia do lugar.Fiquei 5 minutos e saí remando firme para manter uma média acima de 6km/h. Em 40 minutos cheguei na Ponta do Diogo e a partir desse ponto eu iniciava a parte mais tensa da remada, um longo costão rochoso, exposto as grandes ondulações, vento e fortes correntes.‍O mar começou a balançar bem mais, entrou um leve vento, e eu perdi velocidade, mas considerando o local que estava, a condição era muito boa. 1 hora depois comecei a me aproximar da tão temida Ponta do Boi, o extremo sul da Ilhabela, local de muitos naufrágios e bem conhecida pelos navegantes. Nela existe um grande e lindo farol, cuidado por um faroleiro que vive isolado com a sua familia. Deu para imaginar as tempestades que essas pessoas já viram.Bem na virada do farol eu encontrei dois barcos parados com pessoas pescando, aparentemente turistas. Cheguei bem perto, todos me cumprimentaram, perguntaram o que eu estava fazendo e se eu estava bem. Contei que estava no segundo dia da remada de volta da Ilhabela, que iria remar até a Praia da Figueira e teria mais 2 dias pela frente. Senti um olhar apreensivo do capitão. E em seguida ele me diz:‍Amanhã uma grande tempestade vai chegar, com vento e maré cheia de 1,7m. Avance o máximo que você puder hoje.‍‍Agradeci o conselho, me despedi e continuei remando. Aquele aviso me deixou apreensivo… eu estava acompanhando constantemente as previsões até ontem e a princípio teriam mais 3 dias de tempo bom… Talvez ele estivesse errado ou o tempo realmente iria mudar drasticamente muito antes que o previsto…‍Segui remando para o próximo objetivo: cruzar a Ponta da Pirabura, onde existe também um pequeno farol. Nesse local que aconteceu o maior naufrágio da história do nosso país. Morreram 477 pessoas e foi considerado na época o “Titanic Brasileiro”.A tragédia aconteceu no ano de 1916, quando após um forte temporal, somado a um denso nevoeiro, fez o transatlântico espanhol Príncipe das Astúrias – que transportava passageiros e cargas entre Barcelona e Buenos Aires – se chocar com a laje da Ponta da Pirabura. Essa laje possui 5 metros de profundidade e se extende por uns 200 metros longe da Ponta até cair abruptamente para até 50 metros de profundidade. E foi exatamente nesse degrau que o navio se chocou.Remar sobre a laje da Pirabura foi pior que passar pela Ponta do Boi, o mar estava bem mais mexido e com ondas maiores. Eu ficava imaginando o naufrágio que estava ali, bem embaixo de mim, a loucura que deveria ter sido aquela situação e a tal tempestade anunciada pelo pescador. O que eu mais queria no momento era sair o mais rápido desse lugar! Mirei o barco para a próxima ponta, a Ponta Pirassununga, que é a entrada para a Baia de Castelhanos e segui remando forte!Passando pela Pta Pirassununga, comecei a ver outros barcos e o mar acalmou um pouco. Olhei para dentro da baía e vi lá no fundo a Praia da Figueira à uns 50 minutos de distancia, que era o meu plano inicial de parada e pernoite. Mas o aviso do pescador não parava de martelar na minha cabeça… Olhei para o lado oposto da baia, a Pta da Cabeçuda, quase apagada no horizonte por causa da distância e pensei: Vou seguir o conselho do pescador, cruzar essa baía, dormir em outra praia bem mais para frente e me preparar para terminar essa circum-navegação amanhã! Esse temporal não vai me pegar!Remei por mais 2 horas, e cheguei no Saco do Eustáquio morto e já sem água para beber, mas sabia que a partir desse lugar se no dia seguinte eu remasse com bastante disposição, já seria possível chegar em São Sebastião e concluir a remada.O Saco do Eustáquio é um famoso local de parada de barcos e é o lugar mais abrigado da parte leste da Ilhabela. Lá existe uma pequena comunidade de pescadores com um restaurante que serve frutos do mar e peixe fresco para os turistas que chegam de barco.Contei um pouco o que eu estava fazendo e perguntei se teria algum problema se eu dormisse por lá essa noite. Eles me indicaram a sombra de uma árvore para montar a barraca e disseram que eu poderia usar o banheiro e a ducha da praia. Prefeito para mim!‍Um pouco antes de anoitecer, logo após todos as lanchas e Iates zarparem e a praia ficar vazia novamente, uma senhora veio conversar comigo. Disse que receberam um aviso pelo rádio que amanha iria chegar um temporal e era para eu tomar cuidado. Exatamente o que o pescador da Ponta do Boi havia me dito! Disse também que a previsão era que ficaria bem ruim a partir das 12:00 e que às 10:00 eles iriam sair de lá com um barco de pesca em direção ao continente e que eu estava convidado para ir junto. Agradeci o aviso e o convite, e falei que iria sair amanhã bem cedo para tentar entrar no canal de São Sebastiao antes da virada de tempo e assim ficar seguro, mas se a tormenta adiantar e não tiver condições de remar que eu aceitaria o convite.‍Montei acampamento, comi uma comida pronta embalada a vácuo que eu tinha levado (Vapza), sem esquentar mesmo para não precisar organizar as tralhas de cozinha e me enfiei dentro da barraca de bivaque que parece mais um saco de dormir com varetas do que uma barraca propriamente dita. Mas é super leve e compacta! Para levar no surfski é ideal.Terceiro dia: Saco do Eustáquio – Baía do Araçá (São Sebastião)Distancia: 40,47kmDuração: 8h30 (com 4 paradas de 5 minutos em Jabaquara, Armação, Saco da Capela e Pontal da Cruz)Velocidade média: 6km/hDurante a madrugada, perto das 2:30 começou a cair uma baita chuva e comecei a achar que poderia ser a tempestade chegando. A partir desse horário não dormi mais… E às 5:00 resolvi levantar para começar a remar o quanto antes. Comi de café da manha o resto da batata doce e da carne de porco que tinha sobrado do jantar para não perder tempo, fechei acampamento debaixo de chuva, guardando tudo molhado no barco e às 6:00 em ponto, com os primeiros raios de sol aparecendo no horizonte comecei a remar!‍O objetivo inicial era passar pela Ponta Grossa, parar na praia do Poço – 10 km para frente – e ir avançando de praia em praia conforme fosse possível. O mar estava liso, com uma chuva fina e constante que refletia o laranja do nascer do sol. Uma cena linda! Vi uma tartaruga logo que sai da baía do Saco do Eustáquio e estava me sentindo muito bem naquela hora, apesar de todo o suspense e tensão da chegada da tempestade, estava muito feliz de estar ali, foi o momento mais lindo de toda a expedição.Remei por 1h30 passando a Ponta Grossa e ao invés de parar na Praia do Poço resolvi continuar remando. 30 minutos depois passei na praia da Fome e foi a mesma coisa, estava me sentindo forte e o mar estava bom e coloquei uma próxima meta: chegar na próxima praia. E assim 2h30 e 16km depois de Sair do Eustáquio aportei na areia da Praia do Jabaquara.Pisei na areia e tive uma breve sensação de que já tinha escapado do pior, e que daqui para frente seria tranquilo, lá pegava até sinal 3G! Mas poucos minutos depois começou entrar um vento Sul forte que me fez cair na real instantaneamente. Estava chegando o temporal e eu não conseguiria virar a Ponta das Canas – local famoso para os velejadores por causa dos ventos fortes – se esse vento sul aumentasse de intensidade. Não fiquei nem 5 minutos descansando e sai remando bem forte com a próxima meta de chegar na Praia da Armação!Quanto mais eu me aproximava da Ponta das Canas mais o vento apertava, a situação da remada mudou completamente. Eu remava o máximo possível colado nas rochas para me proteger do vento e não dava para saber se seria possível chegar ou se eu teria que voltar a favor do vento e ficar na Praia do Jabaquara até a tempestade parar, o que poderia levar alguns dias. Resolvi colocar o máximo de energia possível, remando bem forte para chegar o quanto antes na Armação, sem poupar esforço, pois lá a Marcela poderia chegar de carro para me pegar se fosse preciso e estaria em segurança.Levei 1h20 para remar 7,5km, e chegar na Praia da Armação. Fui bem rápido, me custou bastante energia, mas eu estava em uma situação bem mais controlada agora. Foram no total 24,50km em 3h45 de remada desde do Saco do Eustáquio. Liguei para a Marcela, falei que estava tudo bem e que a partir de agora eu iria seguir tentando avançar o máximo que desse em direção a Barequeçaba e que caso a situação ficasse impossível eu avisaria para me pegar em algum lugar.Segui remando contra o vento costeando a Ilhabela por mais 1h30 e parei para descansar um pouco depois do centro. Naquele momento entrou um sol e o vento diminuiu, e eu pensei: Essa é a hora de cruzar os 5km do canal em direção ao continente! Pulei literalmente no surfski e sai remando forte mirando o centro histórico de São Sebastião. Mas parecia piada, literalmente 50 metros após, entrou o vento mais forte do que nunca. Eram 11hs da manha e a tempestade de vento sul com maré cheia de sul tinha chegado de vez e bem quando eu estava no meio do canal!‍Chuva e ventoColoquei novamente tudo que eu tinha e o que eu não tinha de energia para sair daquela situação. O mar estava parecendo uma máquina de lavar e eu estava sendo arrastado para o norte. Não conseguia ter certeza se apesar disso eu estava avançando lateralmente em direção a costa oposta, e isso era bem tenso. Comecei a considerar um plano B de virar em direção a Caraguatatuba e remar a favor do vento até alguma praia distante. Tentei mais um pouco e percebi que existia uma potencia de remada que se fosse mantida eu estaria avançando, mas que se fosse menor eu andaria para trás. Foquei o olhar em uma casa laranja, equilibrei meus pensamentos e remei com tudo! 1h15 depois cheguei na praia do Pontal da Cruz, ha 2,5km ao norte do lugar que eu pretendia chegar ao começar a travessia do canal!Descansei por 15 minutos e resolvi continuar remando em direção a Barequeçaba. Fui avançando lutando contra o vento até passar pelo porto aonde a Balsa cruza o canal. Esse é o local aonde possui a corrente mais forte de todo canal de São Sebastião e eu me deparei de uma vez por todas com a temida combinação de Vento com maré cheia vindo da direção Sul. Lá, acho que entrei no olho da tempestade. Parei eu uma prainha micra que nem nome tem, a apenas 200 metros da praia Preta e liguei para a Marcela avisando para ela me pegar nessa próxima praia. Apesar de estar a uns 3km de Barequeçaba não tinha como seguir mais. Totalmente impossível para um barco a remo seguir naquela direção. Disse que em 15 a 20 minutos chegaria.Mas quando voltei para o mar para remar esses últimos 200 metros, a mãe natureza acho que resolveu me dar uma basta! Entrei em uma corrente que parecia que eu estava em uma corredeira fazendo rafting, só que no contra-fluxo. Remei na intensidade máxima que eu conseguia! Comecei a gritar de força, mas se passaram 5 minutos eu não tinha saído do lugar! O jeito era atracar na baia do Araçá, a poucos metros antes e encontrar a Marcela por lá. Virei o surfski a favor do vento e como um foguete, cheguei nessa baia, em uns 2 minutos acho. Parei no quintal de uma casa de pescador que me ajudou a tirar o barco da água. Eu já estava no mar remando ha 8h30! sendo que metade disso foi lutando contra o vento!‍E assim terminei a circum-navegação da Ilhabela sozinho em um Surfski em 3 dias. E a credito que fui a primeira pessoa a fazer isso dessa forma (sozinho e em um surfski).Não terminei em Barequeçaba como gostaria e estava projetando na minha cabeça, com um final triunfante com a minha filha e minha mulher me esperando na areia e todos os louros imagináveis, mas completei a circunferência toda da Ilhabela e voltei para casa em segurança! Se aventurar na natureza é assim nossas expectativas são sempre um mero detalhe!Dedico essa aventura a minha filha Gabi que fez 30 dias de vida no dia que eu completei a expedição. Te amo filha!‍DicasSempre tento incluir no planejamento começar o dia com uma primeira parada após 1 hora de remada, pois esses minutos iniciais são o momento de testar tudo, equipamento, posição, roupas e etc. assim você terá tempo para ajustar o que precisar antes de algum longo trecho sem possibilidade de paradas.Converse com os moradores locais. As informações mais preciosas sempre saem dai.Equipamentos2 pares de remos1 colete salva vidas1 Spot Gen3leash para remo e barcoSurfski Epic V7Saco estanque de 50 LApito, cobertor de emergencia, espelho refletor, bússolaRelógio Garmin Fenix 5XHead lampBarraca Bivaque The North FaceIsolante Térmico e sleeping bag extra leveFogareiro Aztec, talheres, pederneira e isqueiroBoné, camiseta manga longa proteção UV, óculos de sol e protetor solarRepelenteRecipientes para pelo menos 3 litros de águaBaterias portátil, Celular, Gopro Hero6‍‍‍
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