Al Andrich

Fundador e presidente da WAS, Al Andrich é fotógrafo e cinematógrafo de aventura, natureza e cultura, com inúmeros trabalhos publicados pelo mundo. Sua preferência é registrar paisagens naturais vazias, sem a presença ou interferência humana, mostrando em suas fotos uma natureza virgem e intocada sempre que possível. A incorporação de elementos de aventura e cultura são outras de suas paixões.

artigos
Entrevista
Canionismo
O que é canionismo? É a atividade exploratória ou esportiva de se percorrer o interior de um cânion, descendo o leito do seu curso d'água, servindo-se de técnicas e equipamentos de diversos esportes aquáticos e de montanha para que se consiga progredir em seus diversos aspectos, em especial os desníveis. Há diferentes modalidades dentro desse esporte ou é uma coisa só?‍ Sim, há diferentes tipos de modalidades apesar do objetivo final ser um só: a exclusividade de poder estar em locais restritos e de grande beleza natural, com a sensação de êxito em se vencer o percurso. Podemos dividir em duas vertentes: Os que gostam de conquistar novos cânions e os que gostam de descer cânions conquistados. A primeira é formada por pessoas com perfil predominantemente explorador. Estas estão dispostas a sofrerem mais com a pressão psicológica e a exaustão física em troca da aventura inédita. São pessoas que têm o trabalho de grampear todas as ancoragens e criar um croqui do cânion conquistado, a fim de que os próximos praticantes, os repetidores, possam se guiar. A segunda é formada por esses repetidores, que são praticantes com perfil predominantemente recreativo e contemplativo, ou também esportividade quando esses cânions estão com seu caudal d'água forte.‍‍ Como você conheceu o canionismo? Quando começou a praticar?‍ Foi uma transição de longos anos. Eu nasci e fui criado na vila de Furnas-MG, um local circundado de belos e potenciais cânions e cachoeiras. Comecei a me pendurar em cordas em 1996, de forma bem amadora. Em 2000 eu conheci um amigo, o Dickran Berberian, ele me ensinou muitos macetes de cachoeirismo e nesse momento já dispúnhamos de técnicas e equipamentos. Em 2001 começamos a explorar os cânions da região, porém não tínhamos as técnicas de recuperação de cordas do canionismo. Para isso, fazíamos como espeleólogos, uma corda para cada cachoeira e quando acabavam as cordas, voltávamos fazendo ascensão. Em 2008 eu comecei a prospectar cânions maiores, que atualmente são os Cânions BS Prime e BS Diamond, os ícones e clássicos da região de Furnas. Mas foi em 2010 que fui a um encontro brasileiro de canionismo em Delfinópolis/MG na Serra da Canastra e lá conheci o esporte efetivamente através de amigos canionistas. ‍Realizei alguns cursos e de lá pra cá conquistei inúmeros cânions na minha região, descendo muitos outros em regiões como Serra do Intendente, Brotas, Planalto Central, Chapada dos Veadeiros e Chapada Diamantina.‍‍Você acha o canionismo uma atividade perigosa? Quanto?‍‍Sim e não. Eu explico.É uma atividade potencialmente perigosa por suas características altitudinais, aquáticas e regionais por ser praticada em locais inóspitos. No entanto, escolas tradicionais como a que me formei, a francesa, vem investindo no desenvolvimento e aprimoramento de técnicas para sanar falhas do passado.Os equipamentos também evoluíram e isso faz com que o risco seja controlado.O canionismo está se popularizando no Brasil e por esse motivo já começaram a acontecer acidentes.A disponibilidade de informação na web, como tutoriais no YouTube, acredito que também contribuem para que os novos praticantes aspirem de forma rápida, porém muitas das vezes técnicas erradas e/ou inconsistentes (uma vez que a web atualmente está lotada de informações erradas) faz o novo aprendiz emitir um juízo de valor oco, amparado em sua emoção e não na razão. Bom, é por esses fatores e pelas características comportamentais dos tempos atuais que a primeira resposta é sim. É perigosa.Entretanto, conheço canionistas que já praticam há mais tempo do que eu e que nunca tiveram um arranhão. Claro que com o passar dos tempos, com a evolução das técnicas e dos equipamentos, os praticantes vão ficando cada vez mais arrojados.Mas para os praticantes (antigos ou novos) que sabem se despir do espírito competitivo e que acima de tudo sabem respeitar seu nível técnico, sem vislumbres, acumulando maturação consistente, e que reconhecem os perigos da atividade sem o clima de “oba-oba”, sem subestimar o cânion, para esses praticantes a atividade se torna segura.‍Como está o canionismo no Brasil?‍Em crescimento, assim como houve um boom na Europa nos anos 2000.Muitos estão migrando do rapel, ou fazendo um híbrido. Os encontros brasileiros e estaduais que aconteciam anualmente fomentavam a atividade, mas entraram numa curva descendente.‍Voltaram a força após um RIC (Rendez-vous International Canyon) ou Encontro Internacional de Canionismo, o primeiro e com edição única até então, cujo evento aconteceu em 2012 em Delfinópolis/MG.De lá pra cá, com a popularização e novos cânions sendo conquistados, a atividade cresceu, apesar da quantidade de praticantes ainda ser inexpressiva em relação a outros esportes de montanha e aventura.O brasileiro ainda não está completamente disposto a adotar esse estilo de montanha, em especial o do canionismo, mesmo o Brasil tendo um potencial enorme. Mas aos poucos isso vem mudando.Onde você pratica mais o canionismo?Região de Furnas! Terra onde nasci! (risos)Cânions com quartzitos claros e águas cristalinas. Não foi essa a pergunta, mas vou dizer: Já desci cânions em várias regiões, mas nenhuma região supera as características cênicas das Minas Gerais, em especial a região de Furnas.Quais outros esportes você pratica?Pratiquei por muito tempo a escalada em rocha e gosto muito de uma variedade dela, o psicobloc (praticado sobre a água e sem corda) é também uma atividade anfíbia. Mas com o foco dedicado ao canionismo nessa década, não tive tempo para praticar o quanto gostaria.Outro esporte que pratico ocasionalmente é o mergulho com cilindro.Mas o esporte que tenho me encantado é o Paraquedismo (skydive). Fale um pouco sobre sua entrada no paraquedismo.Era um sonho de criança. Queria praticar quando assisti uma cena irada da primeira versão do filme “Caçadores de Emoção”, onde o personagem Bodhi (Patrick Swayze) intima o agente Utah (Keanu Reeves) a saltar e fazer um ritual de encerramento do verão, uma estrela no ar. Acompanhava também pela TV um paraquedista ícone dos anos 2000, o Gui Pádua, que é quase um conterrâneo e me influenciou muito. Mas na época, minha idade para me deslocar até as áreas de salto, na frequência com que elas aconteciam e geravam custos, me limitavam.Mas em 2013, eu disse: - Agora preciso investir nesse sonho. Fui pra Resende/RJ a convite de um experiente amigo e instrutor de paraquedismo e iniciei o curso, porém não dei continuidade. Em 2018, já morando em Ribeirão Preto e mais perto do Centro Nacional de Paraquedismo, em Boituva/SP, retornei a esse esporte que requer muita dedicação tanto para o desenvolvimento de performance quanto para uma maturação na gestão dos riscos. Desde então venho gostando cada vez mais.‍‍Fale um pouco sobre sua atividade como produtor de vídeos de aventura.‍‍Um pouco? Posso falar muito? (risos)É outra paixão, e virou profissão. Cultivo esse gosto desde criança também.Me formei numa área correlata e assim que me formei em 2004, já com uma certa experiência em atividades de aventura e de montanha, comprei minha primeira câmera, uma HandCam Mini-DV para poder registrar minhas aventuras.De uma forma espontânea, observando muito e testando formatos, os registros iam ficando cada vez melhores. Quando em 2010 resolvi que queria ter um programa de TV com tema de aventuras. Fiquei dois anos fazendo pilotos e procurando canais que eu pudesse exibir meu conteúdo e em 2012 estreei num canal local de Ribeirão Preto, onde fiquei até 2018.Durante esse tempo, já praticando canionismo e sendo este o tema predominante dos meus programas, acabei me tornando a referência na produção de vídeos para quem pratica o canionismo e num estilo de produção a ser copiada pelos amadores! (risos)Desenvolvi minha expertise para esse tipo de gravação que envolve água, barulho, pouca luz e atletas que na hora H, querem andar rápido e sair do cânion. Como transitava por outros esportes, recebi convites para atuar em outras produções como as de BASE Jump, que venho fazendo bastante e até mais do que eu esperava.Em 2014 eu fui convidado pelo icônico aventureiro e experiente em imagens de aventura, Celso Cavallini, a participar de uma de suas produções que foi no cânion BS Prime onde aprendi muitos macetes com ele, tanto técnicos quanto burocráticos.Em novembro de 2015 comecei a construir um projeto de uma série de canionismo para o canal Off. Consegui finalizar uma negociação, mas que foi adiada devido ao frágil cenário político e econômico que o Brasil passou em 2016. Mas em 2018, já na era do digital, foi ao ar pelo aplicativo do canal Off a primeira produção sobre canionismo produzida no Brasil, por mim.10) Deixe uma mensagem para quem deseja ingressar no canionismo, paraquedismo ou outras atividades de aventura.R: Procurem sempre alguém que realmente tenha um bom histórico na atividade e nunca, nunca tenham pressa em começar. Nos dias de hoje, todos queremos as coisas “pra ontem” e isso faz com que se pule etapas importantes no aprendizado e formação do aprendiz. E em se tratando de esportes de risco, isso pode ser mortal.No canionismo, apesar de não ser obrigatório, é interessante que se faça um curso com entidades ou alguém que tenha um bom histórico e bagagem. Afinal, você pode aprender de forma errônea justamente pelo fato do curso não ser obrigatório e por não possuir algum tipo de padrão.Para saber escolher, não tenha pressa e pesquise bastante. Já no Paraquedismo é obrigatório o curso. O método usado hoje é o AFF (Acelerated Free Fly) composto por conteúdo teórico e mais 7 níveis práticos que o aluno deve cumprir e também ser aprovado. Depois você passa para a fase de maturação e mesmo saltando sozinho, sempre estará sob a observação de um instrutor até o seu 25º salto. A maior área de saltos da América Latina é Boituva e lá consequentemente concentra a maioria das escolas que funcionam praticamente todos os dias da semana.Por ser um esporte mais antigo que o canionismo e ser praticado em todo mundo basicamente com os mesmos protocolos, os instrutores serem submetidos a comprovação de proficiência, você não precisa se preocupar com a possibilidade de “aprender errado” ou de forma divergente entre escolas.E mais uma vez eu pontuo: A pressa é inimiga da evolução.As demais atividades de aventura seguem esses modelos acima, tanto para esportes que se pode aprender praticando com um amigo/instrutor ou para esportes que necessitam de cursos e é praticado de forma padrão em todo o mundo.
Entrevista
O Mundo ao Lado
Entrevista com Arthur Simões – Pedal Pelo MundoArthur Simões nasceu em São José dos Campos, SP, é formado em Direito pela UniversidadeMackenzie. Em 2006 deu início ao projeto Pedal na Estrada, uma volta ao mundo de bicicleta, percorrendo sozinho 46 países, em 5 continentes. Voltou ao Brasil em 2009, após 3 anos e 2 meses de viagem. Lançou o livro O Mundo ao Lado, sobre sua viagem, realizou exposições de fotografias e atualmente trabalha com fotografia, viagens e segue em busca de novos destinos. Como surgiu a ideia de você fazer volta ao mundo de bicicleta? A ideia surgiu deforma despretensiosa e natural. Pedalo desde criança e a bicicleta já teve diferentes papéis nessa trajetória. Começou como instrumento de liberdade na infância, virou meio de transporte, esporte, hobby e durante a faculdade se tornou uma forma de viajar e conhecer novas culturas. Foi nessa época, enquanto realizava roteiros aqui no Brasil, que soube de um alemão que estava concluindo sua volta ao mundo de bike e custei a acreditar que aquilo era possível. Ficava imaginando como seria fazer uma viagem daquelas. Daqueles devaneios surgiu o embrião da minha viagem e com o tempo ele amadureceu e se tornou um projeto mais consistente, pronto para ser executado. Em paralelo a isso, há também o aspecto do autoconhecimento e questionamentos, que eu acredito ser uma busca que acompanha a maioria dos viajantes. Do ponto de vista pessoal, o que é necessário para elaborar um projeto desse tipo? Como ter a certeza que que ele poderá realmente ser executado e finalizado?Para mim, perseverança e humildade são os elementos fundamentais para se começar e concluir um projeto. Acreditar nele é essencial para que vire realidade, mas estar aberto a sugestões, colaborações e adaptações é tão importante quanto. É muito provável que a pessoa ao elaborar um projeto se depare com uma série de obstáculos, como falta de dinheiro, tempo, parcerias, capacidade técnica, conhecimentos específicos e uma série de outras coisas. Aqui entra a perseverança, pois em alguns momentos pode parecer que nada dará certo e tudo está contra essa empreitada. Há que lembrar que nunca é fácil e só aqueles que não desistem e acreditam firmemente no que estão propondo chegam a algum lugar.Passada essa fase há a execução do projeto. Aqui não há certezas, especialmente quando um projeto trata de desafios ou um grande aventura. O risco está quase sempre presente e o que pode ser feito é um bom planejamento e preparo para que os riscos sejam minimizados. Isso aumenta as chances de que o projeto seja finalizado, mas não é uma garantia. Quando uma pessoa vai para a natureza, muitas vezes está lidando com o desconhecido e o inesperado. Como foi o preparo?O preparo foi menos físico e mais burocrático do que costumam imaginar. Como o Pedal naEstrada – nome do projeto da volta ao mundo de bicicleta – era um projeto longo e relativamente complexo, que envolvia diversos parceiros institucionais, apoios e patrocinadores, nos meses que antecederam minha partida eu estava mais envolvido em deixar tudo ajustado para a partida do que em treinar minhas pernas. Como não havia treinado o quanto eu gostaria, comecei a viagem percorrendo distâncias mais curtas, justamente para meu corpo se adaptar, e em pouco tempo já percorria distâncias bem maiores do que eu achava que conseguiria. Todos dizem que essa parte burocrática é a mais difícil. Como você lidou com isto? Em algum momento teve dúvidas sobre a viabilidade do projeto?A parte burocrática é bem difícil mesmo, o projeto muitas vezes depende dela e fica claro que a realização do projeto não depende só de você, mas de muitas outras pessoas, empresas, organizações e governos. É algo complexo, mas acredito que com humildade e perseverança possa ser realizado. Há que ter humilde para admitir que o projeto precisa ser alterado e lapidado ao longo dessa jornada e perseverança para não desistir, mesmo quando tudo parece não dar certo. Em vários momentos achei que não conseguiria os patrocínios e parcerias que precisava, mas nunca desisti. Estava disposto a fazer a viagem de qualquer forma, com ou sem patrocínio, isso me ajudou a sempre seguir em frente e lidar com as dificuldades desse começo. Após algum tempo vi que o toda a energia que eu havia colocado no Pedal na Estrada (projeto de volta ao mundo de bicicleta) havia dado resultado, era hora de tirar o projeto do papel e cair na estrada. Como foi elaborar o roteiro, selecionar os países?O roteiro foi o início de tudo. Quando resolvi que iria dar a volta ao mundo de bicicleta eu sabia o que queria realizar, mas ainda não tinha ideia por onde começar. Inicialmente me debrucei sobre o roteiro da viagem. Juntei alguns atlas que meu pai tinha, consegui mapas com amigos, cacei livros em bibliotecas e comecei a traçar detalhadamente a rota que iria realizar. Não me limitei por critérios rígidos ou alguma diretriz específica. Queria criar livremente o meu roteiro e para isso quanto menos limitações eu tivesse, melhor seria. Muitas vezes, ao percorrer o mapa, chegava a um país que eu não conhecia, como foi o caso de Mianmar, no Sudeste Asiático, e isso me animava ainda mais a inseri-lo em minha rota. Em linha gerais, a rota foi traçada entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, para evitar com que eu me deparasse com invernos muito duros e não precisasse carregar os pesados equipamentos para temperaturas negativas. Esta foi uma solução inteligente para afastar o perigo de climas mais extremos. O que mais você conseguiu prever que te ajudou quando estava em expedição?Acredito que uma boa seleção dos equipamentos foi algo que me ajudou muito. Bolsas a prova d’água, fogareiro para diversos tipos de combustível e itens de acampamentos versáteis e leves fizeram a viagem ficar mais fácil em alguns momentos. Mesmo assim todos esse planejamento não é garantia de nada, em alguns momentos peguei frio extremo, como nos Andes, calor extremo no Deserto do Saara e as monções noSudeste Asiático. Mesmo assim imaginava que iria me deparar com situações do tipo e estava um pouco preparado para isso. Você já tinha a previsão de realizar a viagem durante três anos ou ficou mais tempo do que o previsto? Estimar a duração de uma viagem como essa é sempre um desafio, pois é impossível prever tudo oque irá acontecer. Sabendo disso tracei uma estimativa curta e outra longa, sendo que a maior tinha 2 anos e meio de duração. Ambas passavam por 28 países.No final da viagem eu havia viajado durante 3 anos e 2 meses e percorrido 46 países. Foi muito positivo para a viagem, mas passou longe até da minha estimativa mais otimista.Nunca me preocupei tanto em me ater ao roteiro que havia desenhado, sabia que ele era apenas uma referência para mim e não deveria ser mais que isso, caso contrário poderia ofuscar as principais características de uma viagem autêntica: a imprevisibilidade e liberdade. Uma longa viagem tem vida própria, é como algo vivo. Para ser bem executada essa característica deve ser compreendida e mantida, caso contrário há o risco de se realizar toda a jornada de forma mecânica e automática, indo do ponto A ao B e depois ao C, como se fosse uma missão ou um trabalho. Acredito que viajar seja ir além disso, é especialmente se abrir para a vida que está em toda parte e isso não combina como mecanicidade ou automatismo. Muitos aventureiros sempre tiveram dificuldades em fechar patrocínios pela característica mais aleatória de certas aventuras. Você acha que isso está mudando? Como foi com você? Acha que hoje seria diferente de quando fez a sua volta ao mundo?Acho que conseguir patrocínio sempre foi algo difícil e pelo o que eu vejo, hoje não mudou muito.Esse tipo de relação não depende só do aventureiro e de seu profissionalismo, depende também do momento da economia do país, da rede de contatos que ele tem e, sempre, de um pouco de sorte para estar na hora certa no lugar certo. Para mim foi bastante difícil também, mas sabendo dessa dificuldade e que dificilmente alguém patrocinaria apenas um projeto esportivo no Brasil, fiz com que o Pedal na Estrada fosse maior que isso. Assim criei um projeto educacional para os estudantes brasileiros, algo que seria realizado enquanto eu viajava. Fiz parcerias com diversas ONGs e isso deu muita consistência ao projeto. A partir daí o Pedal na Estrada começou a chamar a atenção, o que facilitou minha conversa com diversas empresas e me abriu muitas portas. Naquele momento apostei na inovação e na realização de algo novo e inusitado, era uma volta ao mundo de bicicleta – algo raro no Brasil até então – somada a um projeto educacional diferente, tudo isso usando o que havia de melhor de tecnologia naquele momento. Isso fez com que o projeto se destacasse. Hoje o mesmo projeto não teria o mesmo impacto, pois não seria assim tão diferente e desbravador.Para ter o mesmo sucesso que tiver teria que pensar em outras estratégias para atingir os mesmos objetivos: levar o projeto para muita gente, ajudar o maior número de pessoas possível e desenvolver algo inovador, que ninguém fez ainda.Não é fácil, mas isso pode ser a diferença entre um projeto que acontece e outro que não sai do papel. Quais as melhores experiências que você teve e as maiores dificuldades?Acredito que as melhores experiências estejam ligadas a me sentir em harmonia com o local onde eu estava e para isso ocorrer eu dependia especialmente das pessoas de cada região. Quando eu me sentia acolhido e bem recebido em determinada cidade ou vilarejo, ficava mais fácil desenvolver uma relação mais profunda com o local onde estava. O oposto também é verdadeiro e faz referência às grandes dificuldades do caminho. Outra dificuldade era ficar doente, geralmente devido à comida – que era o meu combustível –, num lugar distante. Onde se sentiu mais acolhido e onde foi mais rejeitado? (Se é que podemos usar esse termo?) Consegue ilustrar duas situações desses extremos?O mundo árabe, ao contrário do que as pessoas costumam pensar, costuma ser o lugar mais acolhedor para viajantes. Quanto mais muçulmano maior o acolhimento. Talvez tenha sido por isso que fui justamente no Iêmen onde eu fui melhor recebido. Nos pequenos vilarejos por onde eu passava e pernoitava, geralmente eu era recebido com festa e não mediam esforços para me agradar. Encontravam alguém que falava inglês para conseguirem se comunicar comigo, tiravam água dos poços artesianos para que eu pudesse tomar banho – e olha que estavam no meio do deserto, onde água era um luxo – e preparavam um banquete para mim numa casa que separavam para eu dormir. Era algo difícil de acreditar de tão impressionante que era. Até hoje guardo memórias muito boas desse país e seu povo. Em contrapartida, não longe dali, apenas no outro lado do Mar Vermelho estão os países onde não fui bem recebido. Tanto do Djibuti quanto na Etiópia as pessoas que recebiam com pedras nos vilarejos. Bastava verem que eu não era dali que pegavam pedras e começavam a tacar em mim. Entendo que eles tinham os motivos deles, assim sempre tentei não julga-los por isso, mesmo assim a sensação de ser recebido com pedradas não era muito agradável, ainda mais quando se está sozinho num lugar desconhecido e distante. Quais as histórias inesquecíveis que ouviu pelo caminho? Acredito que cada local e cada pessoa tenham pelo menos uma história interessante para contar, basta saber escutar e observar. Tentava fazer isso com cada lugar onde eu ia.Me perdia pelas vielas de uma cidade de mais de 5 mil anos e até me encontraria aprendendo a ler e escutar a história que seus sinuosos caminhos me contavam. Com as pessoas não era diferente, quase todos tinham uma história interessante para contar para quem quisesse ouvir. Por vezes eram histórias de superação e aprendizado, em outros casos de dificuldades e até milagres. O principal, eram histórias de verdade, de pessoas de verdade, histórias que provavelmente não leremos e nem ficarão registradas para a posteridade. Acredito que esse tipo de vivência seja um contraponto interessante à sociedade do espetáculo em que vivemos, onde a aparência e a imagem prevalecem sobre a realidade, como se algo fosse feito apenas para ser contado e não para ser vivido. Não se sabe mais oque é verdade e o que é inventado. Pode contar uma dessas histórias que mais te marcaram para os nossos leitores? Como acha que a comunidade aventureira pode atrair mais a atenção da mídia para estas histórias/vivências reais?No mundo há milhões de heróis, artistas e pessoas incríveis que vão morrer sem terem o devido reconhecimento. Isso não é de hoje, sempre foi assim e continuará sendo por muito tempo. Para se encontrar tais pessoas e suas histórias e talentos basta ter abertura e sensibilidade. Lembro de um senhor no Paquistão que salvou diversos turistas em sua casa de um possível atentado de um grupo extremista, mesmo que para isso estivesse colocando sua segurança em risco. Essa é apenas uma história simples, mas que passa desapercebida. Hoje a maioria das pessoas fica em busca de histórias espetaculares, em lugares incríveis e acabam quase sempre mostrando a mesma coisa. Quase sempre se esquecem que na maioria das vezes temos exemplos incríveis ao nosso lado. Existe algum destino que você mais se identificou?Me identifiquei bastante com Mianmar, Iêmen e o norte do Paquistão. São países que não são muito conhecidos e permanecem ainda hoje relativamente fechados para o mundo. Por terem se isolado, mantiveram seus valores e culturas preservados de maneira quase intacta. São sociedades muito diferentes do padrão ocidental, um padrão presente em quase todo o mundo atualmente. Acredito que a autenticidade dessas sociedades tenha me conquistado, nada era para atrair turistas ou ganhar mais dinheiro nesses locais. Da mesma forma, houve algum país ou local específico com o qual tenha se decepcionado?Não houve apenas um, mas diversos. Talvez a maior decepção tenha sido com a Índia, um país que sabia que tinha diversos problemas, mas que esperava que fosse minimamente espiritualizado, em função de tantas histórias. No entanto, o que eu encontrei lá, para a minha surpresa, foi um país duro, sofrido, de muita desigualdade e repleto de charlatães e aproveitadores. A espiritualidade se tornou um negócio muito lucrativo para os indianos. Quais conselhos você repassa para quem deseja viajar de bicicleta pelo mundo?Não pense muito e nem espere que tudo esteja perfeito para partir. Marque uma data de partida, faça o seu melhor para planejar a viagem e quando chegar o dia comece com o que tem, depois a viagem irá acontecer da forma que tem que acontecer e, ao final, você terá feito uma viagem única, a sua viagem. Se ainda há dúvidas, basta lembrar do ditado que diz que “o universo conspira a favor dos viajantes”. Acredito que isso seja verdade para os verdadeiros viajantes, aqueles que estão dispostos a abrir mão daquilo que têm para verem o mundo. Qual foi o maior aprendizado de viajar sozinho?Viajar sozinho proporciona uma abertura muito maior para absorver e aprender sobre cada cultura visitada. Sozinho fica mais fácil se desprender de toda bagagem cultural e social que está impregnada em cada um como se fosse a única correta, para observar sem muitos julgamentos e aprender com culturas diferentes. Subjetivamente, viajar sozinho mostra que é possível, desde que se esteja bem consigo próprio, estar bem em qualquer lugar. É a prova de que o mais importante não é simplesmente o que é visto, mas sim como aquilo é visto e absorvido. A partir do momento que se está bem internamente, tudo à sua volta também está bem e não há problema que não possa ser superado. Em algum momento pensou em desistir? Confesso que nunca pensei em desistir. Não por ser durão ou coisa do gênero, mas por sempre achar que estava no lugar certo e fazendo o que tinha que ser feito. Essa certeza fazia com que eu não duvidasse da minha viagem e nem alimentasse comparações com outras possibilidades, como viajar de carro ou de moto ou mesmo ter seguido a profissão de advogado, por exemplo. Quase todos os dias acordava feliz por estar realizando aquela viagem e por poder pedalar por mais uma nova estrada. Até mesmo os maiores problemas eu encarava como possibilidades de aprendizado e isso os deixavam como se fossem parte integrante do caminho e não um obstáculo.
Entrevista
O Céu não é o Limite
Entrevista com Marcos Palhares – ele será um dos pioneiros civis no espaçoEste brasileiro parece personagem das ficções escritas por Julio Verne. Ele já viajou pelas profundezas do oceano abordo de potentes submarinos, já pilotou tanques de Guerra a carros de Fórmula Indy, atingiu a estratosfera em um caça supersônico e agora faz parte de uma seleta lista mundial daqueles que alcançarão o espaço pela iniciativa privada. Para isso, realizou diversos treinamentos em microgravidade nos Estados Unidos, simulações de exploração de Marte no deserto de Utah e ainda organiza grupos como guia nos modernos Observatórios astronômicos do Atacama, onde uma vez ao ano, leva aficcionados para assistir desde uma chuva de meteoros até um fenômeno raro como um eclipse solar. Definitivamente, a vida de Marcos Palhares foge ao trivial, tanto é que escreveu um livro “O Céu não é o Limite” que foi prefaciado por ninguém menos que o único astronauta brasileiro e atualmente ministro, Marcos Pontes, do qual se tornou sócio.Segue um feliz bate-papo com nosso aventureiro WAS de primeira linha: Palhares, você já fez de tudo, já escalou montanhas, mergulhou em naufrágios, praticou todo tipo de esporte outdoor e agora deve representar o Brasil no Espaço. Como é isso? Eu entrei na atividade de Aventuras muito cedo e percebi que isso me trazia enorme satisfação, porque a cada nova empreitada era seguida de um benéfico sentimento de superação que contagiava minhas veias com o “quero mais”. Chegar ao espaço é parte deste sonho, pois desde criança eu desejava ser astronauta e isso me parecia inatingível. Criei meu bordão “O céu não é o Limite” e mostro as pessoas que é possível acreditarmos em nossos sonhos, desde que empenhemos nossa dose de persistência, preparação e planejamento. ‍Com que idade fez sua primeira aventura? Qual foi?Eu tinha uns doze anos. Minha primeira aventura foi um trekking de 63 km até o morro do Pai Inácio, na Chapada Diamantina. Ao chegar no pé do morro, nosso guia disse: “agora vamos subir!” e eu olhei para aquela montanha enorme e íngreme, morto de cansaço e achei que ele estava de brincadeira. No final, chegamos lá em cima para assistir um maravilhoso e inesquecível pôr do sol no vale. Dei um brado de Tarzan pela conquista de ter conseguido superar-me e me senti vitorioso. Isso me mudou pra sempre.‍Você já passou perigo de vida? Subir ao espaço não é perigoso?Claro! Muitas vezes!Na verdade, um simples passeio em família a bordo de um teleférico em um despretensioso domingo, pode-se dizer que sua vida está por um fio. É dessa forma que eu encaro meu voo espacial. Sei que existe o risco, mas o risco existe sempre em tudo. Não adianta entrarem uma “neura”. Um dia pensei muito sobre meus medos e descobri que eu tinha medo de tubarão. Então, planejei um shark dive justamente para eliminar este medo de minha mente e desta forma me tornar um ser humano melhor, mais evoluído, mais preparado para as surpresas da vida. Hoje faço rapel, cannyoing, boiacross, tirolesa, rafting, exploro cavernas e tudo mais.‍Acha que todas as pessoas deveriam fazer como você e enfrentar seus medos também? Que conselhos pode dar a quem enfrenta o paradigma sonho-medo?O medo pode ser importante algumas vezes, ele é um balizador sobre seus limites e impede que façamos bobagens. Mas ele deve ser trabalhado, porque do contrário você se tornará refém e terá uma vida enfadonha. Então, o correto é tornar o medo um risco calculado, dessa forma você pode confrontá-lo, tomando atitudes para evitar erros desnecessários e se preparando melhor para os desafios da vida. Eu tenho o sonho de subir ao espaço, imagine como seria possível eu realizar este sonho se eu tivesse medo de alturas? Eu proponho que neste caso, eu poderia começar subindo uma escada. Depois que me sentisse seguro, subiria um prédio e admirasse a paisagem por uma janela. Uma vez seguro, seguiria em frente e tentaria uma montanha russa em um parque... e dessa forma, em pílulas, você pode enfrentar seus medos e caminhar na direção de seus sonhos. Qual é a sua experiência com montanhas?Bem, no deserto do Atacama no Chile eu sou responsável em levar pessoas comuns a 5mil metros de altitude. É necessário levar tubos de oxigênio pois nesta altura o corpo reage de diferentes maneiras para diferentes pessoas. Temos uma equipe médica de apoio que analisa o batimento cardíaco de cada um devido a falta de ar e mesmo assim acontecem coisas engraçadas: vi turistas entrelaçando as pernas durante a caminhada porque é normal a mente ficar confusa neste ambiente. Mas o impressionante pra mim é a trilha Inca pelas escadarias de Huayna Picchu, no Peru, a falta de cuidado local com a segurança dos turistas que sobem escadas extremamente íngremes e estreitas pelo penhasco. Toda semana alguém se acidenta fatalmente e as autoridades nada podem fazer pois Machu Picchu é tombado pela Unesco, como pode? ‍Qual é o peso da responsabilidade em conduzir pessoas em atividades que envolvem risco de fatalidades? O que você faz para minimizar tais riscos com seus grupos?Boa pergunta. Nós temos seguro viagem em todos os passeios. Mas quando o problema envolve o emocional, eu gosto de chegar perto do meu cliente, olhar nos olhos com seriedade e passar palavras de confiança. Agente dá um treinamento antes da subida e isso deixa eles mais aliviados, mas não me tira o peso da responsabilidade. Minha experiência permite saber quem no grupo merece mais minha atenção afim de evitar acidentes. Uma vez um cliente teve uma crise de falta de ar e ele utilizava o cilindro de oxigênio da maneira errada. Eu percebi e corri até ele, deixei-o mais calmo, apontei o cilindro adequadamente na região nasal e pedi para que ele respirasse profundamente. Aos poucos, ele controlou sua crise. ‍Como foi chegar a mais de 2mil pés de profundidade em um submergível?Essa experiência fez parte de minha busca para explorar novos mundos, até porque nessa profundidade apenas poucos seres humanos tiveram o privilégio de alcançar. É necessário equipamentos de ponta extremamente caros e uma equipe técnica como suporte afim de garantir a segurança no projeto. No fundo do oceano, viajando por áreas intocadas pelo ser humano e cercado de uma fauna marinha que eu chamo de “entidades bioluminescentes” vivi uma das experiências mais marcantes de minha vida. E eu me sentia em uma espaçonave navegando por mundos desconhecidos!‍Quanto custa uma experiência como esta? E as outras, como passeios em submarinos ou caças? Tudo parece ser tão caro e fora de alcance para tanta gente. Acha possível pessoas sonharem com isto e um dia realizarem este sonho? Como?Estamos falando de experiências acima dos cem mil reais. Isso faz pensar que meus clientes são milionários, mas a imensa maioria não é. Uma vez um senhor que dizia sonhar voar em um caça desde criança finalmente tinha condições em fazê-lo, mas quando sua esposa viu o valor do cheque imediatamente refutou. Este cliente voltou meses depois para fazer o cheque e eu questionei se não seria o pivô de uma separação. Ele apenas me disse: “fique tranquilo, ela não queria que eu usasse nosso dinheiro, mas compreendeu a importância que tinha pra mim em realizar este sonho. Então vendi o carro que era meu e aqui estou. O Metrô não será problema por um tempo.” Essa é uma das várias histórias que eu vejo no dia-a-dia. Quando a pessoa quer e está determinada, dinheiro não é o problema. A vontade e determinação de cada um em seu propósito é o que conta. Eu vi que você conhece muitas pessoas que normalmente não são acessíveis ao público, como Elon Musk da Space X, o excêntrico Richard Branson, Buzz Aldrin da Apolo XI... Como você conseguiu falar com estas pessoas?Essa é uma pergunta interessante, porque eu atribuo minha aproximação a estas pessoas que mudaram e continuam mudando a história da humanidade a uma mistura de Lei da Atração com um bom misto de sorte. Nunca passaria pela minha cabeça que ao decidir assistir a decolagem de um foguete espacial na NASA, sentaria ao lado do astronauta Marcos Pontes durante minha viagem pela linha aérea. A maioria dos meus encontros foram por um acaso, embora meu desejo marcante de estar ao lado e em sintonia com estas pessoas deve ter ajudado muito. Tenho um escritório lotado de autógrafos de astronautas na parede e parece que isso contribui nessa força atrativa. Costumo dizer que minha mão direita já cumprimentou muitas pessoas que “fazem acontecer” e isso além de me abrir portas que eu não imaginava, é um motivo de orgulho. Afinal, nada vale uma oportunidade rara se você não souber se comunicar...isso é essencial, ou seja, ter algo pronto e interessante para iniciar uma conversa e criar uma boa sintonia.‍Como essa Lei da Atração pode ser usada na aventura? Além de ter planos com objetivos bem definidos, um projeto bem elaborado com uma bela apresentação e saber demonstrar que se tem preparo para levar a missão até o final, com que mais um aventureiro pode contar para tornar um projeto em realidade?Paixão. É como se diz: “o segredo não está em chegar no topo do morro, mas sim em saber admirar o caminho.” Se você faz algo apenas em busca de uma marca, acaba perdendo o melhor. O aventureiro que se destaca em sua área é aquele que ama o que faz. Você já quebrou a barreira do som. O que você sentiu?Imagine voar a uma velocidade mais rápida que o som da minha voz chegando ao seu ouvido? Eu atingi quase 2mil km/h em um caça Mig na Rússia. Quando acelerei o caça e vi os ponteiros se mexendo, minha primeira reação foi olhar pelo cockpit a mudança externa. Praticamente as nuvens aceleram como se fossem levadas por um vendaval. Em baixa altitude a experiência é ainda melhor, pois as cores no solo vão perdendo sua vivacidade e se tornando opacas. Nestas velocidades você deve estar preparado para as Forças G que esmagam seu corpo contra o assento do avião, isso sim pode ser bem doloroso.‍Que tipo de preparo é este e como podemos conseguir alcançá-lo?Colocamos o cliente em contato com um médico para saber se ele tem problemas de coluna, pressão cardíaca ou mesmo alguma síndrome claustrofóbica. Comportando-se tudo normalmente, coloco em contato com um profissional e ele passará por uma câmara hiperbárica para simular grandes altitudes. Além disso, eu procuro aplicar aquela minha teoria das pílulas...antes do cliente dispender cem mil reais em um voo como este, pergunto se ele não deseja um voo em um caça subsônico primeiro. Assim, ele compreende melhor onde ele está se metendo por um valor bem menor. Após ele estar em contato com o equipamento, se familiarizar com as roupas, cockpits, máscaras de oxigênio e sistemas de segurança, saber como seu corpo se comportou, o próximo passo é perguntar se ele deseja seguir adiante. Certamente estará mais preparado e compreenderá melhor os riscos. E você já viu a curvatura da Terra na Estratosfera?Assim que subi a 62 mil pés, vi o quanto nosso planeta é lindo...para os terraplanistas de plantão, sim, eu sou a prova viva de que a Terra é redonda. Você navega por um ambiente escuro, pois a atmosfera e a maioria dos gases está muito abaixo. Então as nuvens e todo nosso azul fica sob seus pés e você aprecia uma janela para o espaço. Lá, até o sol é diferente. Você o vê como uma estrela, pois não há “filtros” aos nossos olhos. O sol é branco esverdeado, e não vermelho ou amarelo como a gente vê aqui embaixo. O sol é uma bomba de nêutrons!‍Então você já sentiu o gostinho do que vai experimentar quando decolar na nave da Virgin Galactic, certo? A missão já tem data? Pode nos dar detalhes de como será?Ah, eu já tive o privilégio de assistir algo bem próximo do que vou sentir quando chegar a 100 km de altitude. O voo de caça fez parte desta escada que proponho para poder continuar sempre me surpreendendo. Se eu voasse para o espaço antes de fazer o voo de caça, certamente o voo de caça perderia sua graça. A preparação deve seguir a uma ordem natural.Agora estamos em fase de teste com a espaçonave que já atingiu seu marco espacial. A meta agora é uma bateria de testes para comprovar a resistência dos equipamentos e estruturas e ganhar a homologação. Isso geralmente leva uns 3 anos mais de testes, algo como 4 mil horas de motor.Tem um vídeo que fiz para mostrar como tudo funciona. Visite: https://www.youtube.com/watch?v=mkLgxgwL6YY Bom, pelo visto você tem muitas histórias e já fez praticamente tudo. Afinal, o que falta fazer?Ainda tem muitas coisas para conhecer e fazer. Ano passado eu quase fiz um salto de paraquedas a 38mil pés, com macacão especial e capacete de oxigênio, mas não deu certo. Isso ainda está na minha lista e ela é bem extensa. Eu ainda tenho que concluir alguns treinamentos em Moscou para minhas atividades espaciais e estou trabalhando nisso também. Sempre sonhei em pilotar um Hovercraft gigantão e parece que estou em vias de conseguir um na Austrália. Lugares como Grécia e Egito possuem uma história riquíssima e ainda não passei por lá. Em compensação, fiz minha peregrinação de camelo em Petra, na Jordânia, passeio digno de Indiana Jones. Aqui na minha página pessoal tem um resumão:http://marcospalhares.com.br/raio-x-do-aventureiro/É por ai, onde a imaginação alcança, eu estarei lá...‍Você teria algum conselho para dar aos aventureiros iniciantes ou aos inexperientes que estão em busca da viabilização de projetos?Adorei a pergunta. Confesso que tentei diversos patrocínios e isso me tomou muito tempo e nenhum resultado até hoje. Então eu decidi que não poderia me desmotivar e deveria buscar alternativas enquanto as coisas não aconteciam, pois tempo é precioso. Cada um tem seus mecanismos para se auto-patrocinar e eu tive que correr atrás dos meus. Eu já tinha um trabalho que me pagava as contas, mas nem de perto podia almejar tais experiências. Comecei trocando meus finais de semana que me traziam custos como almoços com os amigos, cinema com a namorada e etc; e busquei um modelo que estava ao meu alcance para transformar meu fim de semana em receita. Eu tinha um cosplay do Darth Vader e por incrível que pareça, com um simples site na internet passei a ser contratado para diversos eventos nestes meus momentos de folga. Cheguei a ter 5 eventos por fim de semana. De pronto, dobrei meu salário no final do mês e diminuí despesas, mas ainda não era suficiente. Então precisei continuar me reinventando e escrevi um livro. O livro não vendia nada na livraria e decidi que eu precisava fazer palestras para divulgá-lo e assim conseguir algumas vendas. O interessante é que eu não só aumentei muito a venda dos meus livros como também as palestras gratuitas com o passar do tempo me trouxeram palestras pagas...e bem pagas, por sinal. Mais um incremento conquistado! Por fim, com o networking alcançado, abri uma empresa de marketing digital, minha expertise, e depois veio a sociedade com o astronauta Marcos Pontes em nossa Agência de experiências. Esta agência, aliás, me permitiu realizar muitas viagens a um custo menor.O que estou explicando é que existe o administrador e existe o empreendedor. Meu conselho é que você se torne o empreendedor de você mesmo, ative sua marca pessoal! Então construí outro site para contar tudo que faço e as oportunidades continuam aparecendo, seja nas venda os livros, nas palestras, nas minhas 2 agências. Minha mensagem: comemore cada conquista e cada passo que te leva adiante! Depois, sempre que puder, agradeça ao universo e doe sua energia boa em prol de uma causa. O mundo também agradecerá!
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De volta às origens da Terra
Em 2010 fiz uma expedição para fotografar a campanha da Adventure Sports Fair daquele mesmo anos. O destino foi a província de Mendoza, na Argentina, uma região repleta de atrativos naturais diferenciados. La Payunia é uma exótica região vulcânica com paisagens monocromáticas e multicoloridas intercaladas. Em alguns vulcões é possível entrar caminhando por labirintos de vias abertas pela erosão natural. La Payunia tem uma das maiores concentrações de vulcões do mundo, com mais de 800 e forma o cinturão vulcânico dos Andes. Todos os seus vulcões já estão extintos há milênios, mas o cenário de desolação ainda se faz presente e nos remete às origens da terra. O solo, predominantemente basáltico, é bem escuro e diferente, deixando brotar bem espaçados tufos verdes de gramíneas que alimentam guanacos que vivem na área. Pode-se ver no chão dezenas de piroclastos – do grego pedaços de fogo – que são pedras incandescentes lançadas por um vulcão em erupção: elas podem atingir mais de 10km de distância da cratera. Quando secam, algumas variantes podem virar a famosa pedra-pomes.O horizonte é repleto de vulcões de todos os tamanhos por quilômetros a se perder de vista, sendo o maior deles o Cerro Payún – ou Payún Matrú – e adentrar uma área tão enigmática como esta foi para mim uma experiência digna de uma grande aventura de exploração como nos filmes de Indiana Jones.O frio era intenso e o vento soprava a uma velocidade de derrubar os incautos. Apesar desse desconforto, tudo o que eu queria naquele momento era ficar ali indefinidamente percorrendo aquele região em busca de imagens. Tive a sorte de retornar ao local em 2013 e o encantamento foi o mesmo.
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