O Céu não é o Limite
Entrevista com Marcos Palhares
por
Al Andrich
4/6/2019

Este brasileiro parece personagem das ficções escritas por Julio Verne. Ele já viajou pelas profundezas do oceano abordo de potentes submarinos, já pilotou tanques de Guerra a carros de Fórmula Indy, atingiu a estratosfera em um caça supersônico e agora faz parte de uma seleta lista mundial daqueles que alcançarão o espaço pela iniciativa privada.

Para isso, realizou diversos treinamentos em microgravidade nos Estados Unidos, simulações de exploração de Marte no deserto de Utah e ainda organiza grupos como guia nos modernos Observatórios astronômicos do Atacama, onde uma vez ao ano, leva aficcionados para assistir desde uma chuva de meteoros até um fenômeno raro como um eclipse solar. Definitivamente, a vida de Marcos Palhares foge ao trivial, tanto é que escreveu um livro “O Céu não é o Limite” que foi prefaciado por ninguém menos que o único astronauta brasileiro e atualmente ministro, Marcos Pontes, do qual se tornou sócio.

Segue um feliz bate-papo com nosso aventureiro WAS de primeira linha:

Treinando pilotagem de submersível pela Discover Unknown Depths.

WAS – Palhares, você já fez de tudo, já escalou montanhas, mergulhou em naufrágios, praticou todo tipo de esporte outdoor e agora deve representar o Brasil no Espaço. Como é isso?

Marcos Palhares – Eu entrei na atividade de Aventuras muito cedo e percebi que isso me trazia enorme satisfação, porque a cada nova empreitada era seguida de um benéfico sentimento de superação que contagiava minhas veias com o “quero mais”. Chegar ao espaço é parte deste sonho, pois desde criança eu desejava ser astronauta e isso me parecia inatingível. Criei meu bordão “O céu não é o Limite” e mostro as pessoas que é possível acreditarmos em nossos sonhos, desde que empenhemos nossa dose de persistência, preparação e planejamento.

WAS – Com que idade fez sua primeira aventura? Qual foi?

MP – Eu tinha uns doze anos. Minha primeira aventura foi um trekking de 63 km até o morro do Pai Inácio, na Chapada Diamantina. Ao chegar no pé do morro, nosso guia disse: “agora vamos subir!” e eu olhei para aquela montanha enorme e íngreme, morto de cansaço e achei que ele estava de brincadeira. No final, chegamos lá em cima para assistir um maravilhoso e inesquecível pôr do sol no vale. Dei um brado de Tarzan pela conquista de ter conseguido superar-me e me senti vitorioso. Isso me mudou pra sempre.

No Smithsonian Air Space Museum, de Washington aprofundando-se para escrever o Livro Quem Inventou o Avião.

WAS – Você já passou perigo de vida? Subir ao espaço não é perigoso?

MP – Claro! Muitas vezes! Na verdade, um simples passeio em família a bordo de um teleférico em um despretensioso domingo, pode-se dizer que sua vida está por um fio.  É dessa forma que eu encaro meu voo espacial. Sei que existe o risco, mas o risco existe sempre em tudo. Não adianta entrar em uma “neura”. Um dia pensei muito sobre meus medos e descobri que eu tinha medo de tubarão. Então, planejei um shark dive justamente para eliminar este medo de minha mente e desta forma me tornar um ser humano melhor, mais evoluído, mais preparado para as surpresas da vida. Hoje faço rapel, cannyoing, boiacross, tirolesa, rafting, exploro cavernas e tudo mais.

Decolando em um Mig-29 russo rumo a Estratosfera.

WAS – Acha que todas as pessoas deveriam fazer como você e enfrentar seus medos também? Que conselhos pode dar a quem enfrenta o paradigma sonho-medo?

MP – O medo pode ser importante algumas vezes, ele é um balizador sobre seus limites e impede que façamos bobagens. Mas ele deve ser trabalhado, porque do contrário você se tornará refém e terá uma vida enfadonha. Então, o correto é tornar o medo um risco calculado, dessa forma você pode confrontá-lo, tomando atitudes para evitar erros desnecessários e se preparando melhor para os desafios da vida. Eu tenho o sonho de subir ao espaço, imagine como seria possível eu realizar este sonho se eu tivesse medo de alturas? Eu proponho que neste caso, eu poderia começar subindo uma escada. Depois que me sentisse seguro, subiria um prédio e admirasse a paisagem por uma janela. Uma vez seguro, seguiria em frente e tentaria uma montanha russa em um parque... e dessa forma, em pílulas, você pode enfrentar seus medos e caminhar na direção de seus sonhos.

Sempre interessado em astronomia, ao lado de um fragmento do meteorito de Baringer, no Arizona.

WAS – Qual é a sua experiência com montanhas?

MP – Bem, no deserto do Atacama no Chile eu sou responsável em levar pessoas comuns a 5mil metros de altitude. É necessário levar tubos de oxigênio pois nesta altura o corpo reage de diferentes maneiras para diferentes pessoas. Temos uma equipe médica de apoio que analisa o batimento cardíaco de cada um devido a falta de ar e mesmo assim acontecem coisas engraçadas: vi turistas entrelaçando as pernas durante a caminhada porque é normal a mente ficar confusa neste ambiente. Mas o impressionante pra mim é a trilha Inca pelas escadarias de Huayna Picchu, no Peru, a falta de cuidado local com a segurança dos turistas que sobem escadas extremamente íngremes e estreitas pelo penhasco. Toda semana alguém se acidenta fatalmente e as autoridades nada podem fazer pois Machu Picchu é tombado pela Unesco, como pode?

Ao lado de um traje espacial Orlan russo, no Museu Memorial da Cosmonáutica, em Moscou.

WAS – Qual é o peso da responsabilidade em conduzir pessoas em atividades que envolvem risco de fatalidades? O que você faz para minimizar tais riscos com seus grupos?

MP – Boa pergunta. Nós temos seguro viagem em todos os passeios. Mas quando o problema envolve o emocional, eu gosto de chegar perto do meu cliente, olhar nos olhos com seriedade e passar palavras de confiança. Agente dá um treinamento antes da subida e isso deixa eles mais aliviados, mas não me tira o peso da responsabilidade. Minha experiência permite saber quem no grupo merece mais minha atenção afim de evitar acidentes. Uma vez um cliente teve uma crise de falta de ar e ele utilizava o cilindro de oxigênio da maneira errada. Eu percebi e corri até ele, deixei-o mais calmo, apontei o cilindro adequadamente na região nasal e pedi para que ele respirasse profundamente. Aos poucos, ele controlou sua crise.

No observatório do Laboratório Nacional de Astrofísica - LNA em Minas Gerias.

WAS – Como foi chegar a mais de 2mil pés de profundidade em um submergível?

MP – Essa experiência fez parte de minha busca para explorar novos mundos, até porque nessa profundidade apenas poucos seres humanos tiveram o privilégio de alcançar. É necessário equipamentos de ponta extremamente caros e uma equipe técnica como suporte afim de garantir a segurança no projeto. No fundo do oceano, viajando por áreas intocadas pelo ser humano e cercado de uma fauna marinha que eu chamo de “entidades bioluminescentes” vivi uma das experiências mais marcantes de minha vida. E eu me sentia em uma espaçonave navegando por mundos desconhecidos!

Rumo à aventura para encontrar a base secreta da Área 51.

WAS – Quanto custa uma experiência como esta? E as outras, como passeios em submarinos ou caças? Tudo parece ser tão caro e fora de alcance para tanta gente. Acha possível pessoas sonharem com isto e um dia realizarem este sonho? Como?

MP – Estamos falando de experiências acima dos cem mil reais. Isso faz pensar que meus clientes são milionários, mas a imensa maioria não é. Uma vez um senhor que dizia sonhar voar em um caça desde criança finalmente tinha condições em fazê-lo, mas quando sua esposa viu o valor do cheque imediatamente refutou. Este cliente voltou meses depois para fazer o cheque e eu questionei se não seria o pivô de uma separação. Ele apenas me disse: “fique tranquilo, ela não queria que eu usasse nosso dinheiro, mas compreendeu a importância que tinha pra mim em realizar este sonho. Então vendi o carro que era meu e aqui estou. O Metrô não será problema por um tempo.” Essa é uma das várias histórias que eu vejo no dia-a-dia. Quando a pessoa quer e está determinada, dinheiro não é o problema. A vontade e determinação de cada um em seu propósito é o que conta.

Simulações do uso do braço mecânico de coleta de materiais em Oceano profundo.

WAS – Eu vi que você conhece muitas pessoas que normalmente não são acessíveis ao público, como Elon Musk da Space X, o excêntrico Richard Branson, Buzz Aldrin da Apolo XI... Como você conseguiu falar com estas pessoas?

MP – Essa é uma pergunta interessante, porque eu atribuo minha aproximação a estas pessoas que mudaram e continuam mudando a história da humanidade a uma mistura de Lei da Atração com um bom misto de sorte. Nunca passaria pela minha cabeça que ao decidir assistir a decolagem de um foguete espacial na NASA, sentaria ao lado do astronauta Marcos Pontes durante minha viagem pela linha aérea. A maioria dos meus encontros foram por um acaso, embora meu desejo marcante de estar ao lado e em sintonia com estas pessoas deve ter ajudado muito. Tenho um escritório lotado de autógrafos de astronautas na parede e parece que isso contribui nessa força atrativa. Costumo dizer que minha mão direita já cumprimentou muitas pessoas que “fazem acontecer” e isso além de me abrir portas que eu não imaginava, é um motivo de orgulho. Afinal, nada vale uma oportunidade rara se você não souber se comunicar...isso é essencial, ou seja, ter algo pronto e interessante para iniciar uma conversa e criar uma boa sintonia.

Ao lado de Richard Branson, acompanhando o voo inaugural da Spaceship Two.

WAS – Como essa Lei da Atração pode ser usada na aventura? Além de ter planos com objetivos bem definidos, um projeto bem elaborado com uma bela apresentação e saber demonstrar que se tem preparo para levar a missão até o final, com que mais um aventureiro pode contar para tornar um projeto em realidade?

MP – Paixão. É como se diz: “o segredo não está em chegar no topo do morro, mas sim em saber admirar o caminho.”  Se você faz algo apenas em busca de uma marca, acaba perdendo o melhor. O aventureiro que se destaca em sua área é aquele que ama o que faz.

 

Na loja de souvenirs para os entusiastas de histórias alienígenas.

WAS – Você já quebrou a barreira do som. O que você sentiu?

MP – Imagine voar a uma velocidade mais rápida que o som da minha voz chegando ao seu ouvido? Eu atingi quase 2mil km/h em um caça Mig na Rússia. Quando acelerei o caça e vi os ponteiros se mexendo, minha primeira reação foi olhar pelo cockpit a mudança externa. Praticamente as nuvens aceleram como se fossem levadas por um vendaval. Em baixa altitude a experiência é ainda melhor, pois as cores no solo vão perdendo sua vivacidade e se tornando opacas. Nestas velocidades você deve estar preparado para as Forças G que esmagam seu corpo contra o assento do avião, isso sim pode ser bem doloroso.

Fachada da loja.

WAS – Que tipo de preparo é este e como podemos conseguir alcançá-lo?

MP – Colocamos o cliente em contato com um médico para saber se ele tem problemas de coluna, pressão cardíaca ou mesmo alguma síndrome claustrofóbica. Comportando-se tudo normalmente, coloco em contato com um profissional e ele passará por uma câmara hiperbárica para simular grandes altitudes. Além disso, eu procuro aplicar aquela minha teoria das pílulas...antes do cliente dispender cem mil reais em um voo como este, pergunto se ele não deseja um voo em um caça subsônico primeiro. Assim, ele compreende melhor onde ele está se metendo por um valor bem menor. Após ele estar em contato com o equipamento, se familiarizar com as roupas, cockpits, máscaras de oxigênio e sistemas de segurança, saber como seu corpo se comportou, o próximo passo é perguntar se ele deseja seguir adiante. Certamente estará mais preparado e compreenderá melhor os riscos.

Retorno da estratosfera e recorde de altitude no Mig-29.

WAS – E você já viu a curvatura da Terra na Estratosfera?

MP – Assim que subi a 62 mil pés, vi o quanto nosso planeta é lindo...para os terraplanistas de plantão, sim, eu sou a prova viva de que a Terra é redonda. Você navega por um ambiente escuro, pois a atmosfera e a maioria dos gases está muito abaixo. Então as nuvens e todo nosso azul fica sob seus pés e você aprecia uma janela para o espaço. Lá, até o sol é diferente. Você o vê como uma estrela, pois não há “filtros” aos nossos olhos. O sol é branco esverdeado, e não vermelho ou amarelo como a gente vê aqui embaixo. O sol é uma bomba de nêutrons!

Simulações e treinamento em Forças-G no Kennedy Space Center, NASA.

WAS – Então você já sentiu o gostinho do que vai experimentar quando decolar na nave da Virgin Galactic, certo? A missão já tem data? Pode nos dar detalhes de como será?

MP – Ah, eu já tive o privilégio de assistir algo bem próximo do que vou sentir quando chegar a 100 km de altitude. O voo de caça fez parte desta escada que proponho para poder continuar sempre me surpreendendo. Se eu voasse para o espaço antes de fazer o voo de caça, certamente o voo de caça perderia sua graça. A preparação deve seguir a uma ordem natural. Agora estamos em fase de teste com a espaçonave que já atingiu seu marco espacial. A meta agora é uma bateria de testes para comprovar a resistência dos equipamentos e estruturas e ganhar a homologação. Isso geralmente leva uns 3 anos mais de testes, algo como 4 mil horas de motor. Tem um vídeo que fiz para mostrar como tudo funciona. Visite: https://www.youtube.com/watch?v=mkLgxgwL6YY

Briefing de voo e reconhecimento de cockpit de um caça de combate.

WAS – Bom, pelo visto você tem muitas histórias e já fez praticamente tudo. Afinal, o que falta fazer?

MP – Ainda tem muitas coisas para conhecer e fazer. Ano passado eu quase fiz um salto de paraquedas a 38mil pés, com macacão especial e capacete de oxigênio, mas não deu certo. Isso ainda está na minha lista e ela é bem extensa. Eu ainda tenho que concluir alguns treinamentos em Moscou para minhas atividades espaciais e estou trabalhando nisso também. Sempre sonhei em pilotar um Hovercraft gigantão e parece que estou em vias de conseguir um na Austrália. Lugares como Grécia e Egito possuem uma história riquíssima e ainda não passei por lá. Em compensação, fiz minha peregrinação de camelo em Petra, na Jordânia, passeio digno de Indiana Jones. Aqui na minha página pessoal tem um resumão: http://marcospalhares.com.br/raio-x-do-aventureiro/

É por ai, onde a imaginação alcança, eu estarei lá...

 

No Mojave Air and Space Port, na Califórnia, antiga fábrica da Virgin Galactic.

WAS – Você teria algum conselho para dar aos aventureiros iniciantes ou aos inexperientes que estão em busca da viabilização de projetos?

MP – Adorei a pergunta. Confesso que tentei diversos patrocínios e isso me tomou muito tempo e nenhum resultado até hoje. Então eu decidi que não poderia me desmotivar e deveria buscar alternativas enquanto as coisas não aconteciam, pois tempo é precioso. Cada um tem seus mecanismos para se auto-patrocinar e eu tive que correr atrás dos meus. Eu já tinha um trabalho que me pagava as contas, mas nem de perto podia almejar tais experiências. Comecei trocando meus finais de semana que me traziam custos como almoços com os amigos, cinema com a namorada e etc; e busquei um modelo que estava ao meu alcance para transformar meu fim de semana em receita. Eu tinha um cosplay do Darth Vader e por incrível que pareça, com um simples site na internet passei a ser contratado para diversos eventos nestes meus momentos de folga. Cheguei a ter 5 eventos por fim de semana. De pronto, dobrei meu salário no final do mês e diminuí despesas, mas ainda não era suficiente. Então precisei continuar me reinventando e escrevi um livro. O livro não vendia nada na livraria e decidi que eu precisava fazer palestras para divulgá-lo e assim conseguir algumas vendas. O interessante é que eu não só aumentei muito a venda dos meus livros como também as palestras gratuitas com o passar do tempo me trouxeram palestras pagas...e bem pagas, por sinal. Mais um incremento conquistado! Por fim, com o networking alcançado, abri uma empresa de marketing digital, minha expertise, e depois veio a sociedade com o astronauta Marcos Pontes em nossa Agência de experiências. Esta agência, aliás, me permitiu realizar muitas viagens a um custo menor. O que estou explicando é que existe o administrador e existe o empreendedor. Meu conselho é que você se torne o empreendedor de você mesmo, ative sua marca pessoal! Então construí outro site para contar tudo que faço e as oportunidades continuam aparecendo, seja nas vendas, nos livros, nas palestras, nas minhas 2 agências. Minha mensagem: comemore cada conquista e cada passo que te leva adiante! Depois, sempre que puder, agradeça ao universo e doe sua energia boa em prol de uma causa. O mundo também agradecerá!

• • •
Mais conteúdo de
Al Andrich
Marrakech
Marrakech é uma cidade marroquina cheia de mistério e encanto. Localizada aos pés das montanhas do Atlas, essa cidade milenar atrai viajantes de todo o mundo. Com sua rica história, arquitetura deslumbrante, cozinha exótica e uma vibrante cena cultural, Marrakech oferece uma experiência única a todos os que a visitam. CONTEXTO HISTÓRICO A história de Marrakech remonta à sua fundação por Yusuf ibn Tashfin, líder da dinastia Almorávida. Desde então, a cidade passou por momentos de grande esplendor e influência cultural, sobrevivendo a invasões e alterações de poder ao longo dos séculos. A combinação das culturas berbere e árabe pode ser vista em muitos aspectos da cidade até hoje.‍ IMPORTÂNCIA CULTURAL A arquitetura e os marcos históricos de Marrakech são de tirar o fôlego. A mesquita Koutoubia, com seu minarete imponente, é um exemplo notável da arquitetura islâmica. Além disso, a praça Jemaa el-Fna é um local animado que oferece uma visão fascinante da cultura marroquina, com artistas de rua, contadores de histórias e vendedores ambulantes. Marrakech também é conhecida por suas tradições artesanais, como a tapeçaria, os tecidos tingidos à mão e os trabalhos em cerâmica. Os festivais e celebrações realizados na cidade ao longo do ano, como o Festival de Marrakech e o Festival Popular de Arte são vitrines para a cultura local.‍ DELÍCIAS CULINÁRIAS A culinária marroquina é uma mistura de sabores exóticos e ingredientes frescos. Pratos tradicionais como o tagine e a couscous são conhecidos por seus aromas e sabores intensos. Os temperos usados, como açafrão, cominho e canela, criam combinações deliciosas e únicas. Além disso, os mercados de comida em Marrakech oferecem uma infinidade de opções, desde frutas e nozes até deliciosos doces marroquinos.‍ EXPLORANDO OS SOUKS Uma das experiências mais memoráveis ​​de Marrakech está em explorar seus souks. Esses mercados tradicionais são um labirinto de cores e aromas, oferecendo de tudo, desde tapetes e roupas até especiarias e artesanato local. Perca-se nesses becos movimentados e descubra a autêntica cultura e tradições marroquinas.‍ RICA CENA ARTÍSTICA Marrakech abriga uma variedade de museus e galerias de arte que exibem obras marroquinas e de artistas internacionais. Locais como o Museu de Arte Contemporânea de Marrakech e o Museu Yves Saint Laurent são destinos populares para os amantes da arte. Além disso, a cidade é conhecida pelo seu cenário de arte de rua vibrante, que revela talentos locais e internacionais.‍ O LADO ESPIRITUAL Marrakech é um importante centro espiritual no Marrocos, com muitas mesquitas históricas e locais sagrados. A Mesquita Ben Youssef e a Mesquita Mouassine são exemplos do belo design islâmico, e os jardins da antiga medina proporcionam um refúgio tranquilo para momentos contemplativos. A cidade também oferece a oportunidade de participar de rituais e tradições marroquinas, como a visita a um hamam tradicional.‍AVENTURA E ATIVIDADES OUTDOORAlém de sua beleza cultural, Marrakech também é um excelente ponto de partida para os amantes da natureza e aventureiros. As excursões para as montanhas do Atlas oferecem vistas deslumbrantes e trilhas emocionantes para caminhadas. Já as viagens ao deserto permitem que os visitantes vivenciem a autêntica vida nômade e realizem passeios de camelo inesquecíveis.‍OPÇÕES DE ACOMODAÇÃOMarrakech oferece uma variedade de opções de hospedagem, desde riads tradicionais a hotéis boutique de luxo. Os riads são casas tradicionais marroquinas que foram convertidas em acomodações de charme, proporcionando uma experiência autêntica. Independentemente da escolha, a hospitalidade marroquina é conhecida por seu calor e atenção aos detalhes.‍Pátio do Les Jardin de l'Agdal, um dos SPAs da cidade que oferece acesso facilitado a cadeirantes e outros hóspedes especiais.DICAS DE SEGURANÇA E CONSIDERAÇÕES CULTURAISAo visitar Marrakech, é importante seguir algumas dicas de segurança e considerações culturais. É essencial respeitar a cultura local, vestindo roupas modestas e comportando-se de maneira respeitosa. Além disso, é importante estar atento a golpes turísticos comuns e negociar com os vendedores nos souks de forma educada.‍VALE A PENA CONHECER!Marrakech é uma cidade fascinante que combina história, cultura, gastronomia e aventura. Com sua atmosfera única e experiências autênticas, Marrakech cativa os visitantes, proporcionando uma experiência inesquecível. Do charme dos souks ao esplendor arquitetônico, a cidade oferece algo para todos os gostos, tornando-a um destino imperdível para uma expedição cultural enriquecedora.‍1. Qual é a melhor época do ano para visitar Marrakech?2. Quais são os pratos tradicionais mais famosos de Marrakech?3. É seguro caminhar pela medina de Marrakech à noite?4. Como posso evitar golpes turísticos em Marrakech?5. Qual é a melhor maneira de se locomover em Marrakech?
Fotografia de Natureza 2
A fotografia de natureza é uma das formas mais cativantes de arte visual que nos permite apreciar e preservar as belezas do mundo natural. Desde as magníficas criaturas selvagens até as belezas de paisagens e da flora, a fotografia de natureza nos presenteia com vislumbres íntimos e inspiradores da vida em sua forma mais pura e autêntica. Ao longo dos anos, os avanços tecnológicos têm transformado a fotografia de natureza, abrindo novas possibilidades para os fotógrafos capturarem momentos efêmeros com detalhes impressionantes e cores vivas. Equipamentos de ponta e técnicas inovadoras tornaram possível congelar a ação rápida de animais selvagens em movimento, bem como revelar a beleza oculta de uma paisagem selvagem em uma luz única. A busca pelo equipamento perfeito é uma jornada essencial para qualquer fotógrafo de natureza. O equipamento certo é uma extensão do olhar do fotógrafo, permitindo-lhe contar histórias visuais poderosas e transmitir emoções através de suas imagens. Mas, com uma ampla gama de câmeras, lentes e acessórios disponíveis, a escolha do equipamento certo pode ser uma tarefa desafiadora. A escolha da câmera é o primeiro passo crucial para a fotografia de natureza. Câmeras modernas oferecem uma variedade de recursos, mas os modelos com sensores de alta resolução são amplamente preferidos para capturar detalhes finos nas imagens. Sensores full-frame ou APS-C podem fornecer qualidade de imagem excepcional uma vez que os avanços na tecnologia de sensores permitem uma excelente performance, inclusive em ambientes de pouca luz.
Fotografia de Natureza 1
Ao capturar a beleza da flora, fauna e paisagens naturais, os fotógrafos de natureza têm a oportunidade de contar histórias visuais e despertar emoções. Neste artigo, exploraremos os elementos essenciais e as técnicas básicas para entrar no mundo da fotografia de natureza e criar imagens impressionantes. 1. Conexão com a natureza: A primeira etapa para se envolver na fotografia de natureza é desenvolver uma conexão com o ambiente natural. Passe tempo explorando parques, florestas, praias ou qualquer área que desperte seu interesse. Observe atentamente os detalhes, estude os padrões e as cores, familiarize-se com a fauna e a flora local. Quanto mais você entender e apreciar a natureza, mais significado suas fotografias terão. 2. Equipamentos adequados: Ter um equipamento adequado é essencial para a fotografia de natureza. Uma câmera DSLR ou uma câmera mirrorless com recursos manuais e ajustes personalizados será uma escolha sólida. Além disso, é importante investir em lentes de qualidade que permitam capturar detalhes e alcançar zoom quando necessário. Uma lente grande angular é ideal para paisagens, enquanto uma teleobjetiva é útil para capturar a fauna à distância. 3. Composição e enquadramento: A composição é um aspecto fundamental na fotografia de natureza. Ao planejar uma foto, procure elementos interessantes que possam servir como ponto focal, como uma árvore solitária, uma cascata ou um animal em ação. Use técnicas como a regra dos terços, linhas de fuga e camadas para criar composições equilibradas e visualmente atraentes. 4. Luz e clima: A luz desempenha um papel crucial na fotografia de natureza. A hora dourada, o momento pouco antes do amanhecer ou depois do pôr do sol, oferece uma luz suave e quente, que realça as cores e adiciona uma atmosfera especial às imagens. No entanto, não subestime a luz durante outros momentos do dia. A luz difusa em dias nublados ou os contrastes dramáticos em condições de luz direta também podem criar fotos interessantes. 5. Paciência e observação: A fotografia de natureza requer paciência e capacidade de observação. Tire o tempo necessário para esperar o momento perfeito, seja para capturar o voo de uma ave ou para registrar a luz do sol filtrada pelas árvores. Esteja atento aos detalhes, às interações entre os animais e ao comportamento da natureza. Muitas vezes, as melhores imagens vêm para aqueles que estão dispostos a esperar e observar. 6. Estudo da vida selvagem: Se a fotografia de animais é o seu foco, é importante estudar o comportamento e os hábitos dos animais que você deseja fotografar. Isso permitirá que você se posicione adequadamente, antecipe os movimentos e crie imagens mais envolventes. Conhecer as rotas de migração, os locais de alimentação e os horários de atividade dos animais é crucial para maximizar suas chances de sucesso. 7. Detalhes e texturas: Além de fotografar paisagens e animais em sua totalidade, não deixe de prestar atenção aos detalhes e às texturas encontrados na natureza. Flores em close-up, padrões de casca de árvores ou gotas de orvalho em folhas podem revelar uma beleza surpreendente. Use uma lente macro para capturar esses pequenos detalhes e explorar um mundo microscópico fascinante. 8. Fotografia em movimento: A natureza está constantemente em movimento, e capturar essa dinâmica pode levar suas fotografias a outro nível. Fotografar pássaros em voo, peixes saltando ou cachoeiras em movimento requer técnicas específicas, como o uso de velocidades de obturador rápidas para congelar a ação ou velocidades mais lentas para criar efeitos de borrão intencional. 9. Edição e pós-processamento: O pós-processamento é uma parte importante da fotografia de natureza. Utilize programas de edição de imagens, como o Adobe Lightroom, para aprimorar o contraste, a saturação e o equilíbrio de cores das suas fotos. No entanto, lembre-se de manter a edição sutil e fiel à cena original, evitando exageros que possam distorcer a essência da imagem. 10. Ética e conservação: Por fim, é essencial praticar a ética e a conservação na fotografia de natureza. Respeite o ambiente natural, mantenha-se em trilhas designadas, não perturbe a vida selvagem e nunca coloque a sua segurança ou a dos animais em risco apenas para obter uma foto. Lembre-se de que a preservação do meio ambiente é tão importante quanto as fotografias que capturamos. A fotografia de natureza oferece infinitas possibilidades criativas e uma oportunidade única de conectar-se com a beleza da natureza. Ao explorar os elementos essenciais e dominar as técnicas básicas, você poderá capturar imagens cativantes e compartilhar sua perspectiva do mundo natural com os outros. Portanto, saia, explore e comece a fotografar a natureza que o cerca.
Publicações recentes
Cânion 5 Diamantes
Em um cânion dessa envergadura e desse nível técnico, o ideal é que estivéssemos em uma equipe mais enxuta, o que evitaria atrasos que um grupo maior, por natureza, causa. Meu dupla e eu estávamos na condição de supervisores/mentores de 5 atletas recém formados em um curso de nível avançado, que maturavam suas técnicas nessa aventura. O ponto de encontro foi a cidade de Passos/MG e o atraso na saída foi inevitável. A fazenda que iria nos receber às 7h me contatou informando que só poderia abrir suas porteiras às 9h. Ao chegar, um dos integrantes preferiu não entrar no cânion, já imaginando os problemas causados pelo atraso, e ficou como apoio na base. Repassamos a logística num briefing, subimos a estrada em 2 veículos 4x4, ficando um na entrada do cânion e o outro regressando à base para monitorar nossa progressão através do dispositivo de satélite/GPS. Já eram 12h15min quando de fato entramos no cânion e foi iniciado o primeiro trabalho de corda, num total de 9 (rapéis) e alguns corrimãos de acesso. Dia ensolarado de outono, atmosfera quente e água fria. Esse cânion apresenta uma característica geomórfica bem peculiar, o que dificulta muito a progressão nos trechos em que utilizamos cordas. Seu leito tem desníveis com rampas de 45 graus verticais e 20 graus de inclinação horizontal, à direita. As rampas fazem com que não consigamos apoiar o nosso peso por completo, nem na corda e nem nos pés. A força da água nos passa uma rasteira e a maioria dos rapéis são cruzando as margens. Seguimos em um bom ritmo no início, mas o grupo começou a ficar mais lento nos trechos mais confinados e estreitos, onde a pressão do caudal d’água aumenta. Nesse estreitamento, um dos trechos de que mais gosto, a luz do dia já perdia força. Ainda (ou já) eram 15h, estávamos no rapel #6, tínhamos progredido no máximo 1/3 da extensão confinada do cânion e faltava muita coisa pela frente. Ao chegar ao desnível do rapel #8, um dos integrantes e eu optamos por fazer um salto de 8m, enquanto o restante do grupo optou por transpor esse obstáculo com corda. Nesse ponto do poço, pude perceber que o caudal d’água estava mais forte do que o comum para um outono. Tive também a certeza de que sairíamos à noite. Somente meu dupla e eu conhecíamos esse cânion, pois estávamos na ocasião da conquista. Não sei se isso era uma vantagem ou não, pois eu sabia o quão sofrida seria a continuação desta jornada enquanto o restante do grupo, não. O cânion começa a mostrar suas características mais aquáticas. Poços com correntes que arrastam e que terminam abruptamente em quedas com risco de “Eject” do atleta e deságue das quedas com refluxos. Eu ia à frente com auxílio de um saco resgate (daqueles que se usam em esportes de águas bravas) para verificar e abrir a progressão. Numa dessas, a corrente estava forte e, com bastante adrenalina, consegui chegar à borda de um eject, subir em uma pedra para sair da ação de arrasto da água e saltar. A equipe passava depois, auxiliando meu dupla, que era o último. Chegamos a um dos desníveis mais perigosos deste cânion. Um tobogã em canaleta, com águas e curvas fechadas para os dois lados em sua extensão, com contracorrente, uma marmita lateral e refluxo no seu deságue. Da vez mais recente em que havíamos passado por ele, já à noite, tivemos que escalar uma parede de 12m, instalar uma ancoragem e descer de rapel após o término desse refluxo. Mas desta vez, ainda havia um restinho de luz do dia e, como o rapel demoraria mais, optei por prosseguir pelo tobogã. O risco e o medo são maiores para mim. Novamente fui à frente, com auxílio do saco resgate; porém, em determinado ponto, já sendo chacoalhado pela água e já num ponto onde meu dupla não tinha mais contato nem visual nem sonoro, resolvi soltar a corda de apoio e deixar a corrente me levar... Estava forte, mas transponível. A equipe demorou muito nesse ponto. Tempo justificável pelo nível de dificuldade. A noite chegou e estávamos no rapel #9, o mesmo que em situação anterior meu dupla e eu tivemos que fazer um bivak forçado, pois, na ocasião, era impossível cruzar a margem durante o rapel. Uma rasteira no meio da descida poderia terminar num afogamento. Mais uma vez, achei que teria que bivacar. Caudal forte e muitos trechos de desescalada com risco de escorregões pela frente. Uma ancoragem que havíamos instalado da vez anterior, após o bivak e com luz do dia, era a solução para nossa transposição desse obstáculo e continuação do cânion à noite. Mas acessar essa ancoragem era outro risco, já que é bem exposta e com acesso escorregadio. A equipe então teria que instalar um corrimão de acesso e, toda vez que se necessita instalar um grampo o processo costuma demorar, principalmente à noite. Uma chuva forte passou pelo cânion e achamos melhor pausar a atividade e nos abrigar. Parecia que não tínhamos escapatória e teríamos que bivacar. Estávamos preparados para isso, mas as temperaturas esperadas eram bem baixas e o desconforto era certo. Aliás, eu já estava com muito frio, pois estava parado, aguardando as ancoragens. A chuva parou às 20h, uma bela lua cheia apareceu e eu preferi incentivar a turma a continuar. No último rapel a equipe teve problemas na recuperação da corda. Ela travou e, mesmo montando um sistema de redução para tracionar, não resolveu. Baixa nesse equipamento que tivemos que deixar. Seguimos pela madrugada por mais trechos de águas bravas e flutuação por enormes corredores. Às 3h da madrugada, o cânion se abriu e a lua cheia iluminava com vigor o leito rochoso. Faltava ainda mais de 1 hora de marcha aquática por grandes blocos de rocha e uma temperatura tão baixa que nosso calor, mesmo com o isolamento da roupa de neoprene, condensava atmosfera em vapor. Nossa referência de saída chega e iniciamos uma árdua subida em mata fechada, com samambaias que dificultavam ainda mais nossa ascensão, sem trilha, apenas por referência. A progressão nesse trecho foi muito lenta, já estávamos muito cansados e tivemos que fazer várias paradas. Havia se passado 1 hora de subida quando por fim acessamos a estrada. Eram 5h da manhã, todos muito cansados, e o carro ainda estava 2 km estrada acima. A primeira luz do sol raiou e estávamos na sede da fazenda nos encontrando com nosso amigo que ficou nos monitorando. Foi uma aventura intensa!
Pelo Sertão do Rosa
Sobre este relato: Há uma aventura literária filosófica acontecendo embrenhada no interior de Minas Gerais chamada O Caminho do Sertão, de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas. Em 2019 terá sua 6ª edição. Um trajeto de 180km percorrido por mais de 100 pessoas vindas de áreas e lugares e culturas completamente diversos. Inicia em Sagarana, primeiro local de assentamento em Minas Gerais, distrito criado em homenagem e inspirado por João Guimarães Rosa. E o caminho vai até o Parque Grande Sertão Veredas, em Chapada Gaúcha. Sete noites acampadas, cada qual em um lugar perdido de existência, por baixo de um céu 5 milhões de estrelas. Fomos nos banhar no Urucuia, o rio do amor do livro do Rosa. Tanta e toda vida acontecida logo ali. Montar barraca ao anoitecer, desmontar antes do amanhecer. Mais que encantador, é um momento de reflexão da vida, de tudo que nos cerca, pois que cercados de sertão e de pessoas do sertão é fato que iremos nos questionar de como vivemos a cidade. Eu fui selecionado para a 3ª edição desta caminhada – sim, há um edital, você precisa querer muito ir passar esse perrengue existencial maravilhoso e ser selecionado, além de custear sua alimentação e transporte – e imediatamente após voltar derramei um relato desta aventura. Segue aqui o texto e o convite a repensarmos a revolução necessária ao meio ambiente, a nossa casa toda.‍Meu caminho pelo sertão do RosaOra pois no ôxi então! Vem! Né! Espiaaaaa....Caminho que o senhor fez foi caminho árduo dificultoso no então do ido, foi que foi? É que não. É que é travesso, de serpentina de poeira e rodamoinho de pé-de-valsa no baldio da multidão dos andantes que só e pó. É que foi. Um no depois do outro, o mundo indo, outros lugares. Assim, de passo dado feito mãos dadas. Roda de ciranda e de preparo do corpo pro pro-ir. Eu fui. O outro eu fui. Os outros fui. Eu fui em todos que foram. Todos me foram. Nós então agora somos. Caminhamos o caminho do sertão em terceira edição. Haja amanhã pra tanto hoje, houve. Teve.Rumei trecho. Saído dos loucos na cidade, entre as rosas e os campos, as vertentes, os também gerais, as bárbaras cenas rumo arriba. Sete. Setecentos. E setenta. E sete. É. Pareceu pirraça de brincadeira. Mas foi o GoogleMaps o pierrot dessa picardia. Foram esses os quilômetros (entre) a minha Barbacena e a nossa Sagarana. O meu Ponto de Partida.Esse texto bobo é para cumpliciar com vosmecês a fadiga do meu peito que brinda escrivinhadura com o contar das experiências do andarilho maltrapilho que me rodopia dentro do peito. Um sete em cada panturrilha, a pois! Sete centímetros cada, na idade dos 34 anos (3 + 4 é sete outra vez), na ida da virada do setênio nos 35! Arre! Eles falam. Eles dizem. A cabala, a astrologia, a numerologia, a crise dos casais, as profecias e os anjos deve que dizem também, ou não, pelo contrário.E o meu Ponto de Partida é o grupo de teatro. Todo meu de nosso. Daqui também dos loucos artistas criadores de vida. E o segredo maior do meu sonho-delírio que lhes conto: a música, O Amanhecer, cantarolado por Daiana e assobiado por Gustavo. É canção composta pelo moço conhecido, o tal Fernando Brant, que configurou no desenho do rabisco a letra tendo de contraponto a melodia composta pelo moço que faz do violão uma orquestra, o sinhô Gilvan de Oliveira. A música, cantada em vez primeira pelo pequeno Pablo Bertola, aos 5 anos, foi trilha de um espetáculo belo chamado O Beco, que diz que “quem é do Beco, é seco é pau, por milagre fica em pé. Quem é do Beco não é bom nem mau, sete vidas, tem na fé.... quem tem amigos na vida... está mais perto de ter Deus!”. E aí, que quando ouvi a Daiana, às 04 do dia, meus olhos abriram achando que até a abertura deles era ainda o sonho indo.Vosmecês e vosmecêsas exculpem esse jeito meu de falar do quintal da minha rua, é que é nele que eu entendi que é tudo casa, até a casa nua despida de cidade que é o sertão todo. E eu fui indo né, com vocês, com eles, sendo guiado pela vontade do peito de buscar rumo sem rumo, indo fondo, igual o andarilho que eu criei para perambular mundo. É que ir é o mesmo que o estar, só que sendo de bicicleta, um pouco mais rápido que o passo, um pouco mais lento que o tudo. É ir fondo mesmo.Nos tempos em que li o Grande Sertão do Guimarães eu tive epifanias. De que tudo que precisa ser escrito, dito ou compreendido estava ali. Um relicário precioso. Um baú de Pandora com a capsula do tempo mesclados, feito Deus e o diabo. E encontrar a um bando contatado para travessar juntos foi a mais honesta forma de realizar um sonho que um homem em seu meio caminho de tempero de vida pode encontrar com honestidade. Ver a literatura ganhar folhagem e a folhagem ser o cenário da ficção mais real que já li. Compreender a força pungente e arguta da arte em se fazer parte da vida cotidiana de todos os tipos de gentes (entre) as boas-ruins-boas e as doutas-sábias-rotas. A arte da ficção impelindo ao mundo as verdades!! Maravilha de viver, compreender e perceber. O que as cabeças idealizaram em primeira mão, os corpos sedimentaram em segunda ida. A nós, a alma. Insuflada nos corpos de pó, poeira e terra seca. A água das lágrimas, do suor e do carro de apoio fizeram de nós a massa primeira ancestral da criação. A realização em realidade da filosofia mitológica do barro que cria. E o sertão ali, sorrateiro-pleno, acordado inteiro, insuflando ventinhos para dentro de nós.Entrar ali é entrar em duas dimensões gigantes estando no mesmo lugar. O sertão de todos, o sertão do Rosa. Para transitar de um ao outro sem enlouquecer ao som do vento a gente tinha como que a pausa da existência, o recitar do homem que leva a palavra de Guimarães no beiço, Elson. E para a alma, os guias. De uns, o sol, outros a lua. A estrelaiada é a constelação de anjos para eles. O comandante Fidel dos jagunços urbanejos do sertão, a docilidade no homem em riste que abre os caminhos e garante a ida, a abertura de trincheira, os esclarecer dos matos. O guia celeste, aquele que nos une ao céu em puro, o Célio. O Bergue, nosso xamã curandeiro clérigo guia, que cuida de nossas colunas fingindo que alinhava os pés pelas bolhas, generosidade em abundância guardada dentro de castanhas de baru. O baru! Esse que melhora o colesterol, dá força e juventude, alegria aos casais e alimento a tantos. O guardião da retaguarda do bando, o que aceita o arrematar a travessia, o garantidor dos rastros, a salvação dos observadores mais aprofundados na arte do caminhar sem a pressa da dúvida, o Fanta. O homem um, o um em tantos, o cantador de aboios que nos lembra o ontem e nos faz pensar o amanhã, e sua presença é já. O Jao. E onde há guia, há discípulo dos caminhos. Como lã de carneiros que, na juventude, já vem para nos proteger, compreendendo nos passos tantos os rumos dos do ano que vem, a Lana. E aquele, o famigerado, o estapafúrdio, o sem beiradas de comparação, o papa-léguas do sertão, que tanto admiro, o seu Agemiro. É como o mago supremo talhado em resiliência e arguido em cacto. Importa pouco a secura do mundo, o que ele guarda dentro é água em nascente. Assentados, em beirada de pedra na cachoeira do churrasco eu perguntei a ele pedindo: “Seu Agemiro, fala-me, por favor e obséquio, algo de sabedoria de vida?” – ao que ele me olha, sem a pestana cintilar e me solta para os peitos: “Você quer uma receita? Toma café da manhã, almoça e janta. Pronto. Assim você sobrevive”. É. O sertão. Eu admiro. Resguardo as dúvidas e finjo exibir só as certezas, ele que se mostre para me carcomer entre sol e lua, e guias e setes e amanheceres. Eu sou puro ruminar.E da alma, os guias. Dos seres humanos, a astrologia, a psicologia e a escola de carinhos que o sertão foi. As cachoeiras de reabastecimento dos cantis de dentro. O terreno! Esse faz de cuscus com obra mal queimada em comida guardada de terceiro dia! Sim! O terreno! Pior em cada passo, tenebroso a cada dia. Com um tanto de íngreme a mais que o joelho não mede, mas a coxa caleja. O areal! A areia. Percebem? Os nossos passos ali são os anos! Todos! Um mais pesado que o outro, e depois do outro, mais areia!! E mais areia e poeira e espinhos novos, des-inventados ainda um mês atrás, certeza tenho! A-há!! O sertão diz! Gargalha de bocejar do óbvio que pra si ele deve que ser talvez. Nós caímos na pegada do sertão. Quando melhorou, pareceu, o buraco veio. Não. O buraco foi. Eita. O buraco ali, é paradoxo, porque é um só e é todos. O buraco vão com a gente! O vão dos buracos, o canto mais resguardado de nascente de rio é o maior labirinto pros pés, os olhos, os ouvidos e as águas. É....... as águas. Quem, tendo vivido, visto, ido, bebido, cheirado, benzido e curado há de ter coragem carecida para decidir escrever em linhas o que é a tal dela? A famigerada. A que salva os dois pontos do título do livro do Rosa. Por favor. Se alguém explicar o que é a vereda, conta-me não. Porque para mim ela só pode ser família. O resto é mato.O sertão, moços e moças. Guardou minha alma. Ele não pediu. Não pactuei. Ela foi sendo ele. E é. Achei que não tinha voltado, que o corpo não queria dar o download. Foi não isso. Foi nada. É que de antes de ir até agora que fui eu estou é indo. E vou. Até que fui.A você, qualquer um que careceu de ter coragem de chegar até aqui, ou loucurinha mesmo, obrigado por ter caminhado em lado mais eu. Você me ampliou por me fazer horizonte seu. Isso eu amo.Até mais ver.
Volta na Ilhabela
Type image caption here (optional)‍Eu frequento a região de São Sebastião no litoral norte de São Paulo desde meu nascimento. Minha família tem casa em Barequeçaba e passei minha infância toda olhando para a Ilhabela, do outro lado do canal, como sendo algo intangível e muito distante.Lembro de quando eu tinha uns 5 anos sempre brincar com uma prancha de isopor juntamente com o meu irmão e sair batendo os pés, cantando alto para a minha mãe escutar, dizendo: “Nós vamos para a Ilhabela, Nós vamos para Ilhabela…” Nos afastávamos poucos metros e ela nos trazia de volta para o “raso”. A gente dava risada e adorava a ideia dessa aventura impossível.Eu me sentia tão a vontade no mar que aos 10 anos de idade, meus pais acharam que eu precisava de um estímulo maior e o meu presente de Natal foi um caiaque de fibra de vidro, enorme, feito para adultos mesmo. Eu ia para remar sozinho, a poucos metros da praia e conforme o tempo foi passando, me arriscava a ir cada vez mais longe. Aos poucos a Ilhabela foi ficando mais “perto” e na adolescência, junto de um amigo mais velho, resolvi cruzar o canal, e de lá para cá fiz isso incontáveis vezes, e nas mais diversas condições: com onda, muito vento, mar de ressaca e até durante a noite.‍Natal aos 10 anos de idade1993 aos 15 anos e a Ilhabela ao fundo‍A nova fronteira para mim, como foi aos 5 anos de idade cruzar o canal, se tornou dar a volta completa na Ilhabela toda remando. Era tão inatingível naquele momento como era na brincadeira da prancha de isopor.Ao longo dos anos fui ganhando mais experiência em remadas longas, em equipamentos, tipos de barcos, campismo, expedições (tanto no mar como na montanha). Fiz longas remadas no meu quintal de casa, a volta da Ilha Grande, e uma remada solo de 6 dias de Paraty até Barequeçaba entre o Natal e a virada do ano de 2017-18. Após essa expedição tive a certeza que tinha chegado a hora de tentar a volta da Ilhabela, eu me sentia no equilíbrio ideal entre: físico, mental e conhecimento técnico.E 1 ano e 3 meses depois, aos 40 anos de idade, com uma vida completamente renovada, uma super companheira ao meu lado e uma filha recém nascida de 30 dias, comecei a remada. Entrei no mar, me despedi dos meus 2 amores e emocionado, comecei a cantar para mim mesmo: “Nós vamos para Ilhabela, Nós vamos para Ilhabela” ‍Saindo de BarequeçabaDistancia: 25,90kmDuração: 5h18 (com parada de 20 minutos no Veloso)Velocidade média: 5km/hCruzei os 4,6km do canal até a praia do Veloso em 45 minutos. À poucos metros da praia tem um lindo parcel de pedras e corais que me fez ficar alguns minutos tirando fotos antes de encostar na areia. Foram 20 minutos fazendo o double check de tudo antes de seguir para a parte pesada da remada desse primeiro dia, que era o trecho Veloso – Praia do Bonete. Daqui para frente não existem mais praias para descansar ou se abrigar, e virando a Ponta da Sela, porta de entrada do Canal de São Sebastião, eu entraria em mar aberto, muito mais exposto ao vento e as ondulações.Segui firme, virei a Ponta da Sela e apesar de ter um pouco mais de vento e ondulação, as condições estavam ótimas para remar. Mas 30 minutos depois comecei a me sentir mal, enjoado e sonolento. Como se eu estivesse de ressaca e bem mais cansado do que eu estaria normalmente… Demorei um pouco para entender o que estava acontecendo, mas aí caiu a ficha. Era a falta de sono acumulada dos últimos 30 dias por ter um bebê recém nascido em casa!‍‍Foi uma luta remar até o Bonete. Cheguei morto, quando desci do barco não conseguia abrir a mão para soltar o remo, por causa de uma câimbra no ante-braço, decorrente do movimento errado que eu estava fazendo para remar em virtude do cansaço.Comecei a questionar se conseguiria continuar no dia seguinte… Normalmente o primeiro dia de uma expedição sempre é mais traumático, a gente está mais ansioso, dorme pouco na noite anterior, sofre mais para seu corpo se acostumar e para a sua mente entrar em sintonia com tudo, mas essa vez foi realmente intenso!‍‍‍Deixei o surfski na areia e fui direto para um quiosque que aparentava ter o que comer. Pedi um PF de peixe fresco e enquanto eles preparavam, eu comi uma lata de salada de batata com atum, estava morto de fome! O Tarciso, dono do quiosque, inclusive ofereceu a sua casa para eu guardar o barco. Muito boa gente.Bom, meu plano foi comer bem, deitar cedo, dormir o máximo possível. E sem pressão, esperar acordar no dia seguinte para sentir como eu estaria e assim seguir o não.‍Decidi ficar em um Hostal e não acampado essa noite justamente para dormir bem. Além disso nesse mesmo dia um amigo que eu e a Marcela fizemos na nossa expedição de carro pela América do Sul chegaria nesse Hostel hoje e eu aproveitei para revê-lo.Segundo dia: Praia do Bonete – Praia de Indaiaúba – Saco do Eustáquio‍Distancia: 33,05kmDuração: 5h30 (com parada de 5 minutos em Indaiaúba)Velocidade média: 6km/hAcordei as 6:00 da manhã me sentindo muito bem! Apesar do calor infernal e dos borrachudos – não existia ventilador no quarto – eu consegui dormir 10 horas, e estava incrivelmente renovado! Preparei meu café da manhã: omelete desidratado, café com leite, pão integral com pasta de amendoim e saí do Hostal. Antes passei em uma pousada que possuía internet para tentar falar com a Marcela e ouvir um pouco a voz da Gabi. Falar com a Má foi a injeção de energia final que eu precisava para entrar no mar com a motivação necessária para enfrentar o que supostamente seria o trecho mais difícil de toda a circum-navegação da Ilhabela: Cruzar a Ponta do Boi e a Ponta da Pirabura.O dia estava lindo, sem vento e sem ondulação. Comecei a remar com o primeiro objetivo de parar na Praia de Indaiauba, que como no dia anterior seria a última parada antes do desafio longo de hoje. Foram 6 km em 45 minutos, e serviu para eu ter certeza que estava bem.‍‍‍Indaiaúba é uma das praias mais lindas da Ilha, se não a mais linda. Tem uma cor de água bem especial, sempre super cristalina e possui uma pequena cachoeira no canto esquerdo que praticamente deságua no mar. A única questão é que essa praia foi “privatizada” por um condomínio de luxo. Tem cameras e seguranças para todo o lado e isso quebra um pouco a magia do lugar.Fiquei 5 minutos e saí remando firme para manter uma média acima de 6km/h. Em 40 minutos cheguei na Ponta do Diogo e a partir desse ponto eu iniciava a parte mais tensa da remada, um longo costão rochoso, exposto as grandes ondulações, vento e fortes correntes.‍O mar começou a balançar bem mais, entrou um leve vento, e eu perdi velocidade, mas considerando o local que estava, a condição era muito boa. 1 hora depois comecei a me aproximar da tão temida Ponta do Boi, o extremo sul da Ilhabela, local de muitos naufrágios e bem conhecida pelos navegantes. Nela existe um grande e lindo farol, cuidado por um faroleiro que vive isolado com a sua familia. Deu para imaginar as tempestades que essas pessoas já viram.Bem na virada do farol eu encontrei dois barcos parados com pessoas pescando, aparentemente turistas. Cheguei bem perto, todos me cumprimentaram, perguntaram o que eu estava fazendo e se eu estava bem. Contei que estava no segundo dia da remada de volta da Ilhabela, que iria remar até a Praia da Figueira e teria mais 2 dias pela frente. Senti um olhar apreensivo do capitão. E em seguida ele me diz:‍Amanhã uma grande tempestade vai chegar, com vento e maré cheia de 1,7m. Avance o máximo que você puder hoje.‍‍Agradeci o conselho, me despedi e continuei remando. Aquele aviso me deixou apreensivo… eu estava acompanhando constantemente as previsões até ontem e a princípio teriam mais 3 dias de tempo bom… Talvez ele estivesse errado ou o tempo realmente iria mudar drasticamente muito antes que o previsto…‍Segui remando para o próximo objetivo: cruzar a Ponta da Pirabura, onde existe também um pequeno farol. Nesse local que aconteceu o maior naufrágio da história do nosso país. Morreram 477 pessoas e foi considerado na época o “Titanic Brasileiro”.A tragédia aconteceu no ano de 1916, quando após um forte temporal, somado a um denso nevoeiro, fez o transatlântico espanhol Príncipe das Astúrias – que transportava passageiros e cargas entre Barcelona e Buenos Aires – se chocar com a laje da Ponta da Pirabura. Essa laje possui 5 metros de profundidade e se extende por uns 200 metros longe da Ponta até cair abruptamente para até 50 metros de profundidade. E foi exatamente nesse degrau que o navio se chocou.Remar sobre a laje da Pirabura foi pior que passar pela Ponta do Boi, o mar estava bem mais mexido e com ondas maiores. Eu ficava imaginando o naufrágio que estava ali, bem embaixo de mim, a loucura que deveria ter sido aquela situação e a tal tempestade anunciada pelo pescador. O que eu mais queria no momento era sair o mais rápido desse lugar! Mirei o barco para a próxima ponta, a Ponta Pirassununga, que é a entrada para a Baia de Castelhanos e segui remando forte!Passando pela Pta Pirassununga, comecei a ver outros barcos e o mar acalmou um pouco. Olhei para dentro da baía e vi lá no fundo a Praia da Figueira à uns 50 minutos de distancia, que era o meu plano inicial de parada e pernoite. Mas o aviso do pescador não parava de martelar na minha cabeça… Olhei para o lado oposto da baia, a Pta da Cabeçuda, quase apagada no horizonte por causa da distância e pensei: Vou seguir o conselho do pescador, cruzar essa baía, dormir em outra praia bem mais para frente e me preparar para terminar essa circum-navegação amanhã! Esse temporal não vai me pegar!Remei por mais 2 horas, e cheguei no Saco do Eustáquio morto e já sem água para beber, mas sabia que a partir desse lugar se no dia seguinte eu remasse com bastante disposição, já seria possível chegar em São Sebastião e concluir a remada.O Saco do Eustáquio é um famoso local de parada de barcos e é o lugar mais abrigado da parte leste da Ilhabela. Lá existe uma pequena comunidade de pescadores com um restaurante que serve frutos do mar e peixe fresco para os turistas que chegam de barco.Contei um pouco o que eu estava fazendo e perguntei se teria algum problema se eu dormisse por lá essa noite. Eles me indicaram a sombra de uma árvore para montar a barraca e disseram que eu poderia usar o banheiro e a ducha da praia. Prefeito para mim!‍Um pouco antes de anoitecer, logo após todos as lanchas e Iates zarparem e a praia ficar vazia novamente, uma senhora veio conversar comigo. Disse que receberam um aviso pelo rádio que amanha iria chegar um temporal e era para eu tomar cuidado. Exatamente o que o pescador da Ponta do Boi havia me dito! Disse também que a previsão era que ficaria bem ruim a partir das 12:00 e que às 10:00 eles iriam sair de lá com um barco de pesca em direção ao continente e que eu estava convidado para ir junto. Agradeci o aviso e o convite, e falei que iria sair amanhã bem cedo para tentar entrar no canal de São Sebastiao antes da virada de tempo e assim ficar seguro, mas se a tormenta adiantar e não tiver condições de remar que eu aceitaria o convite.‍Montei acampamento, comi uma comida pronta embalada a vácuo que eu tinha levado (Vapza), sem esquentar mesmo para não precisar organizar as tralhas de cozinha e me enfiei dentro da barraca de bivaque que parece mais um saco de dormir com varetas do que uma barraca propriamente dita. Mas é super leve e compacta! Para levar no surfski é ideal.Terceiro dia: Saco do Eustáquio – Baía do Araçá (São Sebastião)Distancia: 40,47kmDuração: 8h30 (com 4 paradas de 5 minutos em Jabaquara, Armação, Saco da Capela e Pontal da Cruz)Velocidade média: 6km/hDurante a madrugada, perto das 2:30 começou a cair uma baita chuva e comecei a achar que poderia ser a tempestade chegando. A partir desse horário não dormi mais… E às 5:00 resolvi levantar para começar a remar o quanto antes. Comi de café da manha o resto da batata doce e da carne de porco que tinha sobrado do jantar para não perder tempo, fechei acampamento debaixo de chuva, guardando tudo molhado no barco e às 6:00 em ponto, com os primeiros raios de sol aparecendo no horizonte comecei a remar!‍O objetivo inicial era passar pela Ponta Grossa, parar na praia do Poço – 10 km para frente – e ir avançando de praia em praia conforme fosse possível. O mar estava liso, com uma chuva fina e constante que refletia o laranja do nascer do sol. Uma cena linda! Vi uma tartaruga logo que sai da baía do Saco do Eustáquio e estava me sentindo muito bem naquela hora, apesar de todo o suspense e tensão da chegada da tempestade, estava muito feliz de estar ali, foi o momento mais lindo de toda a expedição.Remei por 1h30 passando a Ponta Grossa e ao invés de parar na Praia do Poço resolvi continuar remando. 30 minutos depois passei na praia da Fome e foi a mesma coisa, estava me sentindo forte e o mar estava bom e coloquei uma próxima meta: chegar na próxima praia. E assim 2h30 e 16km depois de Sair do Eustáquio aportei na areia da Praia do Jabaquara.Pisei na areia e tive uma breve sensação de que já tinha escapado do pior, e que daqui para frente seria tranquilo, lá pegava até sinal 3G! Mas poucos minutos depois começou entrar um vento Sul forte que me fez cair na real instantaneamente. Estava chegando o temporal e eu não conseguiria virar a Ponta das Canas – local famoso para os velejadores por causa dos ventos fortes – se esse vento sul aumentasse de intensidade. Não fiquei nem 5 minutos descansando e sai remando bem forte com a próxima meta de chegar na Praia da Armação!Quanto mais eu me aproximava da Ponta das Canas mais o vento apertava, a situação da remada mudou completamente. Eu remava o máximo possível colado nas rochas para me proteger do vento e não dava para saber se seria possível chegar ou se eu teria que voltar a favor do vento e ficar na Praia do Jabaquara até a tempestade parar, o que poderia levar alguns dias. Resolvi colocar o máximo de energia possível, remando bem forte para chegar o quanto antes na Armação, sem poupar esforço, pois lá a Marcela poderia chegar de carro para me pegar se fosse preciso e estaria em segurança.Levei 1h20 para remar 7,5km, e chegar na Praia da Armação. Fui bem rápido, me custou bastante energia, mas eu estava em uma situação bem mais controlada agora. Foram no total 24,50km em 3h45 de remada desde do Saco do Eustáquio. Liguei para a Marcela, falei que estava tudo bem e que a partir de agora eu iria seguir tentando avançar o máximo que desse em direção a Barequeçaba e que caso a situação ficasse impossível eu avisaria para me pegar em algum lugar.Segui remando contra o vento costeando a Ilhabela por mais 1h30 e parei para descansar um pouco depois do centro. Naquele momento entrou um sol e o vento diminuiu, e eu pensei: Essa é a hora de cruzar os 5km do canal em direção ao continente! Pulei literalmente no surfski e sai remando forte mirando o centro histórico de São Sebastião. Mas parecia piada, literalmente 50 metros após, entrou o vento mais forte do que nunca. Eram 11hs da manha e a tempestade de vento sul com maré cheia de sul tinha chegado de vez e bem quando eu estava no meio do canal!‍Chuva e ventoColoquei novamente tudo que eu tinha e o que eu não tinha de energia para sair daquela situação. O mar estava parecendo uma máquina de lavar e eu estava sendo arrastado para o norte. Não conseguia ter certeza se apesar disso eu estava avançando lateralmente em direção a costa oposta, e isso era bem tenso. Comecei a considerar um plano B de virar em direção a Caraguatatuba e remar a favor do vento até alguma praia distante. Tentei mais um pouco e percebi que existia uma potencia de remada que se fosse mantida eu estaria avançando, mas que se fosse menor eu andaria para trás. Foquei o olhar em uma casa laranja, equilibrei meus pensamentos e remei com tudo! 1h15 depois cheguei na praia do Pontal da Cruz, ha 2,5km ao norte do lugar que eu pretendia chegar ao começar a travessia do canal!Descansei por 15 minutos e resolvi continuar remando em direção a Barequeçaba. Fui avançando lutando contra o vento até passar pelo porto aonde a Balsa cruza o canal. Esse é o local aonde possui a corrente mais forte de todo canal de São Sebastião e eu me deparei de uma vez por todas com a temida combinação de Vento com maré cheia vindo da direção Sul. Lá, acho que entrei no olho da tempestade. Parei eu uma prainha micra que nem nome tem, a apenas 200 metros da praia Preta e liguei para a Marcela avisando para ela me pegar nessa próxima praia. Apesar de estar a uns 3km de Barequeçaba não tinha como seguir mais. Totalmente impossível para um barco a remo seguir naquela direção. Disse que em 15 a 20 minutos chegaria.Mas quando voltei para o mar para remar esses últimos 200 metros, a mãe natureza acho que resolveu me dar uma basta! Entrei em uma corrente que parecia que eu estava em uma corredeira fazendo rafting, só que no contra-fluxo. Remei na intensidade máxima que eu conseguia! Comecei a gritar de força, mas se passaram 5 minutos eu não tinha saído do lugar! O jeito era atracar na baia do Araçá, a poucos metros antes e encontrar a Marcela por lá. Virei o surfski a favor do vento e como um foguete, cheguei nessa baia, em uns 2 minutos acho. Parei no quintal de uma casa de pescador que me ajudou a tirar o barco da água. Eu já estava no mar remando ha 8h30! sendo que metade disso foi lutando contra o vento!‍E assim terminei a circum-navegação da Ilhabela sozinho em um Surfski em 3 dias. E a credito que fui a primeira pessoa a fazer isso dessa forma (sozinho e em um surfski).Não terminei em Barequeçaba como gostaria e estava projetando na minha cabeça, com um final triunfante com a minha filha e minha mulher me esperando na areia e todos os louros imagináveis, mas completei a circunferência toda da Ilhabela e voltei para casa em segurança! Se aventurar na natureza é assim nossas expectativas são sempre um mero detalhe!Dedico essa aventura a minha filha Gabi que fez 30 dias de vida no dia que eu completei a expedição. Te amo filha!‍DicasSempre tento incluir no planejamento começar o dia com uma primeira parada após 1 hora de remada, pois esses minutos iniciais são o momento de testar tudo, equipamento, posição, roupas e etc. assim você terá tempo para ajustar o que precisar antes de algum longo trecho sem possibilidade de paradas.Converse com os moradores locais. As informações mais preciosas sempre saem dai.Equipamentos2 pares de remos1 colete salva vidas1 Spot Gen3leash para remo e barcoSurfski Epic V7Saco estanque de 50 LApito, cobertor de emergencia, espelho refletor, bússolaRelógio Garmin Fenix 5XHead lampBarraca Bivaque The North FaceIsolante Térmico e sleeping bag extra leveFogareiro Aztec, talheres, pederneira e isqueiroBoné, camiseta manga longa proteção UV, óculos de sol e protetor solarRepelenteRecipientes para pelo menos 3 litros de águaBaterias portátil, Celular, Gopro Hero6‍‍‍
Ver Blog