Canionismo
Entrevista com Sanner Moraes
por
Al Andrich
13/5/2020

Prepare-se para se aventurar em um mundo de aventuras emocionantes e cenários impressionantes enquanto conversamos com o canionista Sanner Moraes. Com um espírito audaz e uma paixão inabalável pela exploração das mais profundas gargantas e desfiladeiros, Sanner é um verdadeiro mestre das alturas. Nesta entrevista exclusiva, ele compartilhará suas experiências, os desafios enfrentados ao longo de sua carreira, e como essa fascinante atividade o conecta de forma íntima com a natureza que o cerca. Junte-se a nós nesta jornada emocionante e descubra o mundo através dos olhos destemidos de Sanner Moraes, um verdadeiro mestre dos abismos.

WAS – O que é canionismo?

Sanner Moraes – É a atividade exploratória ou esportiva de se percorrer o interior de um cânion, descendo o leito do seu curso d'água, servindo-se de técnicas e equipamentos de diversos esportes aquáticos e de montanha para que se consiga progredir em seus diversos aspectos, em especial os desníveis.

WAS – Há diferentes modalidades dentro desse esporte ou é uma coisa só?

SM – Sim, há diferentes tipos de modalidades apesar do objetivo final ser um só: a exclusividade de poder estar em locais restritos e de grande beleza natural, com a sensação de êxito em se vencer o percurso. Podemos dividir em duas vertentes: Os que gostam de conquistar novos cânions e os que gostam de descer cânions conquistados. A primeira é formada por pessoas com perfil predominantemente explorador. Estas estão dispostas a sofrerem mais com a pressão psicológica e a exaustão física em troca da aventura inédita. São pessoas que têm o trabalho de grampear todas as ancoragens e criar um croqui do cânion conquistado, a fim de que os próximos praticantes, os repetidores, possam se guiar. A segunda é formada por esses repetidores, que são praticantes com perfil predominantemente recreativo e contemplativo, ou também esportividade quando esses cânions estão com seu caudal d'água forte.

Antepenúltimo rapel do cânion localizado no Complexo Natural Paraíso Selvagem, aos arredores da Serra da Canastra, em Delfinópolis/MG | Foto: arquivo pessoal

WAS – Como você conheceu o canionismo? Quando começou a praticar?

SM – Foi uma transição de longos anos. Eu nasci e fui criado na vila de Furnas-MG, um local circundado de belos e potenciais cânions e cachoeiras.
Comecei a me pendurar em cordas em 1996, de forma bem amadora. Em 2000 eu conheci um amigo, o Dickran Berberian, ele me ensinou muitos macetes de cachoeirismo e nesse momento já dispúnhamos de técnicas e equipamentos. Em 2001 começamos a explorar os cânions da região, porém não tínhamos as técnicas de recuperação de cordas do canionismo. Para isso, fazíamos como espeleólogos, uma corda para cada cachoeira e quando acabavam as cordas, voltávamos fazendo ascensão. Em 2008 eu comecei a prospectar cânions maiores, que atualmente são os Cânions BS Prime e BS Diamond, os ícones e clássicos da região de Furnas. Mas foi em 2010 que fui a um encontro brasileiro de canionismo em Delfinópolis/MG na Serra da Canastra e lá conheci o esporte efetivamente através de amigos canionistas. Realizei alguns cursos e de lá pra cá conquistei inúmeros cânions na minha região, descendo muitos outros em regiões como Serra do Intendente, Brotas, Planalto Central, Chapada dos Veadeiros e Chapada Diamantina.

WAS – Você acha o canionismo uma atividade perigosa? Quanto?

SM – Sim e não. Eu explico. É uma atividade potencialmente perigosa por suas características altitudinais, aquáticas e regionais por ser praticada em locais inóspitos. No entanto, escolas tradicionais como a que me formei, a francesa, vem investindo no desenvolvimento e aprimoramento de técnicas para sanar falhas do passado. Os equipamentos também evoluíram e isso faz com que o risco seja controlado. O canionismo está se popularizando no Brasil e por esse motivo já começaram a acontecer acidentes. A disponibilidade de informação na web, como tutoriais no YouTube, acredito que também contribuem para que os novos praticantes aspirem de forma rápida, porém muitas das vezes técnicas erradas e/ou inconsistentes (uma vez que a web atualmente está lotada de informações erradas) faz o novo aprendiz emitir um juízo de valor oco, amparado em sua emoção e não na razão. Bom, é por esses fatores e pelas características comportamentais dos tempos atuais que a primeira resposta é sim. É perigosa. Entretanto, conheço canionistas que já praticam há mais tempo do que eu e que nunca tiveram um arranhão. Claro que com o passar dos tempos, com a evolução das técnicas e dos equipamentos, os praticantes vão ficando cada vez mais arrojados. Mas para os praticantes (antigos ou novos) que sabem se despir do espírito competitivo e que acima de tudo sabem respeitar seu nível técnico, sem vislumbres, acumulando maturação consistente, e que reconhecem os perigos da atividade sem o clima de “oba-oba”, sem subestimar o cânion, para esses praticantes a atividade se torna segura.

Durante gravação para o aplicativo do Canal Off, no cânion BS Prime na região de Furnas, em Capitólio/MG | Foto: Sérgio Marien

WAS – Como está o canionismo no Brasil?

SMEm crescimento, assim como houve um boom na Europa nos anos 2000. Muitos estão migrando do rapel, ou fazendo um híbrido. Os encontros brasileiros e estaduais que aconteciam anualmente fomentavam a atividade, mas entraram numa curva descendente. Voltaram a força após um RIC (Rendez-vous International Canyon) ou Encontro Internacional de Canionismo, o primeiro e com edição única até então, cujo evento aconteceu em 2012 em Delfinópolis/MG. De lá pra cá, com a popularização e novos cânions sendo conquistados, a atividade cresceu, apesar da quantidade de praticantes ainda ser inexpressiva em relação a outros esportes de montanha e aventura. O brasileiro ainda não está completamente disposto a adotar esse estilo de montanha, em especial o do canionismo, mesmo o Brasil tendo um potencial enorme. Mas aos poucos isso vem mudando.

WAS – Onde você pratica mais o canionismo?

SM – Região de Furnas! Terra onde nasci! (risos...) Cânions com quartzitos claros e águas cristalinas. Não foi essa a pergunta, mas vou dizer: Já desci cânions em várias regiões, mas nenhuma região supera as características cênicas das Minas Gerais, em especial a região de Furnas.

Coração do Cânion BS Diamond, o cânion mais clássico da região de Furnas, em Capitólio/MG | Foto: arquivo pessoal

WAS – Quais outros esportes você pratica?

SMPratiquei por muito tempo a escalada em rocha e gosto muito de uma variedade dela, o psicobloc (praticado sobre a água e sem corda) é também uma atividade anfíbia. Mas com o foco dedicado ao canionismo nessa década, não tive tempo para praticar o quanto gostaria. Outro esporte que pratico ocasionalmente é o mergulho com cilindro. Mas o esporte que tenho me encantado é o Paraquedismo (skydive).

WAS – Fale um pouco sobre sua entrada no paraquedismo.

SM – Era um sonho de criança. Queria praticar quando assisti uma cena irada da primeira versão do filme “Caçadores de Emoção”, onde o personagem Bodhi (Patrick Swayze) intima o agente Utah (Keanu Reeves) a saltar e fazer um ritual de encerramento do verão, uma estrela no ar. Acompanhava também pela TV um paraquedista ícone dos anos 2000, o Gui Pádua, que é quase um conterrâneo e me influenciou muito. Mas na época, minha idade para me deslocar até as áreas de salto, na frequência com que elas aconteciam e geravam custos, me limitavam. Mas em 2013, eu disse: – Agora preciso investir nesse sonho. Fui pra Resende/RJ a convite de um experiente amigo e instrutor de paraquedismo e iniciei o curso, porém não dei continuidade. Em 2018, já morando em Ribeirão Preto e mais perto do Centro Nacional de Paraquedismo, em Boituva/SP, retornei a esse esporte que requer muita dedicação tanto para o desenvolvimento de performance quanto para uma maturação na gestão dos riscos. Desde então venho gostando cada vez mais.

Skydive (ou salto de paraquedas) no Centro Nacional de Paraquedismo, em Boituva/SP | Foto: arquivo pessoal

WAS – Fale um pouco sobre sua atividade como produtor de vídeos de aventura.

SM – Um pouco? Posso falar muito? (risos...) É outra paixão, e virou profissão. Cultivo esse gosto desde criança também. Me formei numa área correlata e assim que me formei em 2004, já com uma certa experiência em atividades de aventura e de montanha, comprei minha primeira câmera, uma HandCam Mini-DV para poder registrar minhas aventuras. De uma forma espontânea, observando muito e testando formatos, os registros iam ficando cada vez melhores. Quando em 2010 resolvi que queria ter um programa de TV com tema de aventuras. Fiquei dois anos fazendo pilotos e procurando canais que eu pudesse exibir meu conteúdo e em 2012 estreei num canal local de Ribeirão Preto, onde fiquei até 2018. Durante esse tempo, já praticando canionismo e sendo este o tema predominante dos meus programas, acabei me tornando a referência na produção de vídeos para quem pratica o canionismo e num estilo de produção a ser copiada pelos amadores! (risos...) Desenvolvi minha expertise para esse tipo de gravação que envolve água, barulho, pouca luz e atletas que na hora H, querem andar rápido e sair do cânion. Como transitava por outros esportes, recebi convites para atuar em outras produções como as de BASE Jump, que venho fazendo bastante e até mais do que eu esperava. Em 2014 eu fui convidado pelo icônico aventureiro e experiente em imagens de aventura, Celso Cavallini, a participar de uma de suas produções que foi no cânion BS Prime onde aprendi muitos macetes com ele, tanto técnicos quanto burocráticos. Em novembro de 2015 comecei a construir um projeto de uma série de canionismo para o canal Off. Consegui finalizar uma negociação, mas que foi adiada devido ao frágil cenário político e econômico que o Brasil passou em 2016. Mas em 2018, já na era do digital, foi ao ar pelo aplicativo do canal Off a primeira produção sobre canionismo produzida no Brasil, por mim.

Durante gravação para o aplicativo do Canal Off, no Cânion BS Diamond localizado na região de Furnas, em Capitólio/MG | Foto: Sérgio Marien

WAS – Deixe uma mensagem para quem deseja ingressar no canionismo, paraquedismo ou outras atividades de aventura.

SM – Procurem sempre alguém que realmente tenha um bom histórico na atividade e nunca, nunca tenham pressa em começar. Nos dias de hoje, todos queremos as coisas “pra ontem” e isso faz com que se pule etapas importantes no aprendizado e formação do aprendiz. E em se tratando de esportes de risco, isso pode ser mortal. No canionismo, apesar de não ser obrigatório, é interessante que se faça um curso com entidades ou alguém que tenha um bom histórico e bagagem. Afinal, você pode aprender de forma errônea justamente pelo fato do curso não ser obrigatório e por não possuir algum tipo de padrão. Para saber escolher, não tenha pressa e pesquise bastante. Já no Paraquedismo é obrigatório o curso. O método usado hoje é o AFF (Acelerated Free Fly) composto por conteúdo teórico e mais 7 níveis práticos que o aluno deve cumprir e também ser aprovado. Depois você passa para a fase de maturação e mesmo saltando sozinho, sempre estará sob a observação de um instrutor até o seu 25º salto. A maior área de saltos da América Latina é Boituva e lá consequentemente concentra a maioria das escolas que funcionam praticamente todos os dias da semana. Por ser um esporte mais antigo que o canionismo e ser praticado em todo mundo basicamente com os mesmos protocolos, os instrutores serem submetidos a comprovação de proficiência, você não precisa se preocupar com a possibilidade de “aprender errado” ou de forma divergente entre escolas. E mais uma vez eu pontuo: A pressa é inimiga da evolução. As demais atividades de aventura seguem esses modelos acima, tanto para esportes que se pode aprender praticando com um amigo/instrutor ou para esportes que necessitam de cursos e é praticado de forma padrão em todo o mundo.

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Em um cânion dessa envergadura e desse nível técnico, o ideal é que estivéssemos em uma equipe mais enxuta, o que evitaria atrasos que um grupo maior, por natureza, causa. Meu dupla e eu estávamos na condição de supervisores/mentores de 5 atletas recém formados em um curso de nível avançado, que maturavam suas técnicas nessa aventura. O ponto de encontro foi a cidade de Passos/MG e o atraso na saída foi inevitável. A fazenda que iria nos receber às 7h me contatou informando que só poderia abrir suas porteiras às 9h. Ao chegar, um dos integrantes preferiu não entrar no cânion, já imaginando os problemas causados pelo atraso, e ficou como apoio na base. Repassamos a logística num briefing, subimos a estrada em 2 veículos 4x4, ficando um na entrada do cânion e o outro regressando à base para monitorar nossa progressão através do dispositivo de satélite/GPS. 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Haja amanhã pra tanto hoje, houve. Teve.Rumei trecho. Saído dos loucos na cidade, entre as rosas e os campos, as vertentes, os também gerais, as bárbaras cenas rumo arriba. Sete. Setecentos. E setenta. E sete. É. Pareceu pirraça de brincadeira. Mas foi o GoogleMaps o pierrot dessa picardia. Foram esses os quilômetros (entre) a minha Barbacena e a nossa Sagarana. O meu Ponto de Partida.Esse texto bobo é para cumpliciar com vosmecês a fadiga do meu peito que brinda escrivinhadura com o contar das experiências do andarilho maltrapilho que me rodopia dentro do peito. Um sete em cada panturrilha, a pois! Sete centímetros cada, na idade dos 34 anos (3 + 4 é sete outra vez), na ida da virada do setênio nos 35! Arre! Eles falam. Eles dizem. A cabala, a astrologia, a numerologia, a crise dos casais, as profecias e os anjos deve que dizem também, ou não, pelo contrário.E o meu Ponto de Partida é o grupo de teatro. Todo meu de nosso. Daqui também dos loucos artistas criadores de vida. E o segredo maior do meu sonho-delírio que lhes conto: a música, O Amanhecer, cantarolado por Daiana e assobiado por Gustavo. É canção composta pelo moço conhecido, o tal Fernando Brant, que configurou no desenho do rabisco a letra tendo de contraponto a melodia composta pelo moço que faz do violão uma orquestra, o sinhô Gilvan de Oliveira. A música, cantada em vez primeira pelo pequeno Pablo Bertola, aos 5 anos, foi trilha de um espetáculo belo chamado O Beco, que diz que “quem é do Beco, é seco é pau, por milagre fica em pé. Quem é do Beco não é bom nem mau, sete vidas, tem na fé.... quem tem amigos na vida... está mais perto de ter Deus!”. E aí, que quando ouvi a Daiana, às 04 do dia, meus olhos abriram achando que até a abertura deles era ainda o sonho indo.Vosmecês e vosmecêsas exculpem esse jeito meu de falar do quintal da minha rua, é que é nele que eu entendi que é tudo casa, até a casa nua despida de cidade que é o sertão todo. E eu fui indo né, com vocês, com eles, sendo guiado pela vontade do peito de buscar rumo sem rumo, indo fondo, igual o andarilho que eu criei para perambular mundo. É que ir é o mesmo que o estar, só que sendo de bicicleta, um pouco mais rápido que o passo, um pouco mais lento que o tudo. É ir fondo mesmo.Nos tempos em que li o Grande Sertão do Guimarães eu tive epifanias. De que tudo que precisa ser escrito, dito ou compreendido estava ali. Um relicário precioso. Um baú de Pandora com a capsula do tempo mesclados, feito Deus e o diabo. E encontrar a um bando contatado para travessar juntos foi a mais honesta forma de realizar um sonho que um homem em seu meio caminho de tempero de vida pode encontrar com honestidade. Ver a literatura ganhar folhagem e a folhagem ser o cenário da ficção mais real que já li. Compreender a força pungente e arguta da arte em se fazer parte da vida cotidiana de todos os tipos de gentes (entre) as boas-ruins-boas e as doutas-sábias-rotas. A arte da ficção impelindo ao mundo as verdades!! Maravilha de viver, compreender e perceber. O que as cabeças idealizaram em primeira mão, os corpos sedimentaram em segunda ida. A nós, a alma. Insuflada nos corpos de pó, poeira e terra seca. A água das lágrimas, do suor e do carro de apoio fizeram de nós a massa primeira ancestral da criação. A realização em realidade da filosofia mitológica do barro que cria. E o sertão ali, sorrateiro-pleno, acordado inteiro, insuflando ventinhos para dentro de nós.Entrar ali é entrar em duas dimensões gigantes estando no mesmo lugar. O sertão de todos, o sertão do Rosa. Para transitar de um ao outro sem enlouquecer ao som do vento a gente tinha como que a pausa da existência, o recitar do homem que leva a palavra de Guimarães no beiço, Elson. E para a alma, os guias. De uns, o sol, outros a lua. A estrelaiada é a constelação de anjos para eles. O comandante Fidel dos jagunços urbanejos do sertão, a docilidade no homem em riste que abre os caminhos e garante a ida, a abertura de trincheira, os esclarecer dos matos. O guia celeste, aquele que nos une ao céu em puro, o Célio. O Bergue, nosso xamã curandeiro clérigo guia, que cuida de nossas colunas fingindo que alinhava os pés pelas bolhas, generosidade em abundância guardada dentro de castanhas de baru. O baru! Esse que melhora o colesterol, dá força e juventude, alegria aos casais e alimento a tantos. O guardião da retaguarda do bando, o que aceita o arrematar a travessia, o garantidor dos rastros, a salvação dos observadores mais aprofundados na arte do caminhar sem a pressa da dúvida, o Fanta. O homem um, o um em tantos, o cantador de aboios que nos lembra o ontem e nos faz pensar o amanhã, e sua presença é já. O Jao. E onde há guia, há discípulo dos caminhos. Como lã de carneiros que, na juventude, já vem para nos proteger, compreendendo nos passos tantos os rumos dos do ano que vem, a Lana. E aquele, o famigerado, o estapafúrdio, o sem beiradas de comparação, o papa-léguas do sertão, que tanto admiro, o seu Agemiro. É como o mago supremo talhado em resiliência e arguido em cacto. Importa pouco a secura do mundo, o que ele guarda dentro é água em nascente. Assentados, em beirada de pedra na cachoeira do churrasco eu perguntei a ele pedindo: “Seu Agemiro, fala-me, por favor e obséquio, algo de sabedoria de vida?” – ao que ele me olha, sem a pestana cintilar e me solta para os peitos: “Você quer uma receita? Toma café da manhã, almoça e janta. Pronto. Assim você sobrevive”. É. O sertão. Eu admiro. Resguardo as dúvidas e finjo exibir só as certezas, ele que se mostre para me carcomer entre sol e lua, e guias e setes e amanheceres. Eu sou puro ruminar.E da alma, os guias. Dos seres humanos, a astrologia, a psicologia e a escola de carinhos que o sertão foi. As cachoeiras de reabastecimento dos cantis de dentro. O terreno! Esse faz de cuscus com obra mal queimada em comida guardada de terceiro dia! Sim! O terreno! Pior em cada passo, tenebroso a cada dia. Com um tanto de íngreme a mais que o joelho não mede, mas a coxa caleja. O areal! A areia. Percebem? Os nossos passos ali são os anos! Todos! Um mais pesado que o outro, e depois do outro, mais areia!! E mais areia e poeira e espinhos novos, des-inventados ainda um mês atrás, certeza tenho! A-há!! O sertão diz! Gargalha de bocejar do óbvio que pra si ele deve que ser talvez. Nós caímos na pegada do sertão. Quando melhorou, pareceu, o buraco veio. Não. O buraco foi. Eita. O buraco ali, é paradoxo, porque é um só e é todos. O buraco vão com a gente! O vão dos buracos, o canto mais resguardado de nascente de rio é o maior labirinto pros pés, os olhos, os ouvidos e as águas. É....... as águas. Quem, tendo vivido, visto, ido, bebido, cheirado, benzido e curado há de ter coragem carecida para decidir escrever em linhas o que é a tal dela? A famigerada. A que salva os dois pontos do título do livro do Rosa. Por favor. Se alguém explicar o que é a vereda, conta-me não. Porque para mim ela só pode ser família. O resto é mato.O sertão, moços e moças. Guardou minha alma. Ele não pediu. Não pactuei. Ela foi sendo ele. E é. Achei que não tinha voltado, que o corpo não queria dar o download. Foi não isso. Foi nada. É que de antes de ir até agora que fui eu estou é indo. E vou. Até que fui.A você, qualquer um que careceu de ter coragem de chegar até aqui, ou loucurinha mesmo, obrigado por ter caminhado em lado mais eu. Você me ampliou por me fazer horizonte seu. Isso eu amo.Até mais ver.
Volta na Ilhabela
Type image caption here (optional)‍Eu frequento a região de São Sebastião no litoral norte de São Paulo desde meu nascimento. Minha família tem casa em Barequeçaba e passei minha infância toda olhando para a Ilhabela, do outro lado do canal, como sendo algo intangível e muito distante.Lembro de quando eu tinha uns 5 anos sempre brincar com uma prancha de isopor juntamente com o meu irmão e sair batendo os pés, cantando alto para a minha mãe escutar, dizendo: “Nós vamos para a Ilhabela, Nós vamos para Ilhabela…” Nos afastávamos poucos metros e ela nos trazia de volta para o “raso”. A gente dava risada e adorava a ideia dessa aventura impossível.Eu me sentia tão a vontade no mar que aos 10 anos de idade, meus pais acharam que eu precisava de um estímulo maior e o meu presente de Natal foi um caiaque de fibra de vidro, enorme, feito para adultos mesmo. Eu ia para remar sozinho, a poucos metros da praia e conforme o tempo foi passando, me arriscava a ir cada vez mais longe. Aos poucos a Ilhabela foi ficando mais “perto” e na adolescência, junto de um amigo mais velho, resolvi cruzar o canal, e de lá para cá fiz isso incontáveis vezes, e nas mais diversas condições: com onda, muito vento, mar de ressaca e até durante a noite.‍Natal aos 10 anos de idade1993 aos 15 anos e a Ilhabela ao fundo‍A nova fronteira para mim, como foi aos 5 anos de idade cruzar o canal, se tornou dar a volta completa na Ilhabela toda remando. Era tão inatingível naquele momento como era na brincadeira da prancha de isopor.Ao longo dos anos fui ganhando mais experiência em remadas longas, em equipamentos, tipos de barcos, campismo, expedições (tanto no mar como na montanha). Fiz longas remadas no meu quintal de casa, a volta da Ilha Grande, e uma remada solo de 6 dias de Paraty até Barequeçaba entre o Natal e a virada do ano de 2017-18. Após essa expedição tive a certeza que tinha chegado a hora de tentar a volta da Ilhabela, eu me sentia no equilíbrio ideal entre: físico, mental e conhecimento técnico.E 1 ano e 3 meses depois, aos 40 anos de idade, com uma vida completamente renovada, uma super companheira ao meu lado e uma filha recém nascida de 30 dias, comecei a remada. Entrei no mar, me despedi dos meus 2 amores e emocionado, comecei a cantar para mim mesmo: “Nós vamos para Ilhabela, Nós vamos para Ilhabela” ‍Saindo de BarequeçabaDistancia: 25,90kmDuração: 5h18 (com parada de 20 minutos no Veloso)Velocidade média: 5km/hCruzei os 4,6km do canal até a praia do Veloso em 45 minutos. À poucos metros da praia tem um lindo parcel de pedras e corais que me fez ficar alguns minutos tirando fotos antes de encostar na areia. Foram 20 minutos fazendo o double check de tudo antes de seguir para a parte pesada da remada desse primeiro dia, que era o trecho Veloso – Praia do Bonete. Daqui para frente não existem mais praias para descansar ou se abrigar, e virando a Ponta da Sela, porta de entrada do Canal de São Sebastião, eu entraria em mar aberto, muito mais exposto ao vento e as ondulações.Segui firme, virei a Ponta da Sela e apesar de ter um pouco mais de vento e ondulação, as condições estavam ótimas para remar. Mas 30 minutos depois comecei a me sentir mal, enjoado e sonolento. Como se eu estivesse de ressaca e bem mais cansado do que eu estaria normalmente… Demorei um pouco para entender o que estava acontecendo, mas aí caiu a ficha. Era a falta de sono acumulada dos últimos 30 dias por ter um bebê recém nascido em casa!‍‍Foi uma luta remar até o Bonete. Cheguei morto, quando desci do barco não conseguia abrir a mão para soltar o remo, por causa de uma câimbra no ante-braço, decorrente do movimento errado que eu estava fazendo para remar em virtude do cansaço.Comecei a questionar se conseguiria continuar no dia seguinte… Normalmente o primeiro dia de uma expedição sempre é mais traumático, a gente está mais ansioso, dorme pouco na noite anterior, sofre mais para seu corpo se acostumar e para a sua mente entrar em sintonia com tudo, mas essa vez foi realmente intenso!‍‍‍Deixei o surfski na areia e fui direto para um quiosque que aparentava ter o que comer. Pedi um PF de peixe fresco e enquanto eles preparavam, eu comi uma lata de salada de batata com atum, estava morto de fome! O Tarciso, dono do quiosque, inclusive ofereceu a sua casa para eu guardar o barco. Muito boa gente.Bom, meu plano foi comer bem, deitar cedo, dormir o máximo possível. E sem pressão, esperar acordar no dia seguinte para sentir como eu estaria e assim seguir o não.‍Decidi ficar em um Hostal e não acampado essa noite justamente para dormir bem. Além disso nesse mesmo dia um amigo que eu e a Marcela fizemos na nossa expedição de carro pela América do Sul chegaria nesse Hostel hoje e eu aproveitei para revê-lo.Segundo dia: Praia do Bonete – Praia de Indaiaúba – Saco do Eustáquio‍Distancia: 33,05kmDuração: 5h30 (com parada de 5 minutos em Indaiaúba)Velocidade média: 6km/hAcordei as 6:00 da manhã me sentindo muito bem! Apesar do calor infernal e dos borrachudos – não existia ventilador no quarto – eu consegui dormir 10 horas, e estava incrivelmente renovado! Preparei meu café da manhã: omelete desidratado, café com leite, pão integral com pasta de amendoim e saí do Hostal. Antes passei em uma pousada que possuía internet para tentar falar com a Marcela e ouvir um pouco a voz da Gabi. Falar com a Má foi a injeção de energia final que eu precisava para entrar no mar com a motivação necessária para enfrentar o que supostamente seria o trecho mais difícil de toda a circum-navegação da Ilhabela: Cruzar a Ponta do Boi e a Ponta da Pirabura.O dia estava lindo, sem vento e sem ondulação. Comecei a remar com o primeiro objetivo de parar na Praia de Indaiauba, que como no dia anterior seria a última parada antes do desafio longo de hoje. Foram 6 km em 45 minutos, e serviu para eu ter certeza que estava bem.‍‍‍Indaiaúba é uma das praias mais lindas da Ilha, se não a mais linda. Tem uma cor de água bem especial, sempre super cristalina e possui uma pequena cachoeira no canto esquerdo que praticamente deságua no mar. A única questão é que essa praia foi “privatizada” por um condomínio de luxo. Tem cameras e seguranças para todo o lado e isso quebra um pouco a magia do lugar.Fiquei 5 minutos e saí remando firme para manter uma média acima de 6km/h. Em 40 minutos cheguei na Ponta do Diogo e a partir desse ponto eu iniciava a parte mais tensa da remada, um longo costão rochoso, exposto as grandes ondulações, vento e fortes correntes.‍O mar começou a balançar bem mais, entrou um leve vento, e eu perdi velocidade, mas considerando o local que estava, a condição era muito boa. 1 hora depois comecei a me aproximar da tão temida Ponta do Boi, o extremo sul da Ilhabela, local de muitos naufrágios e bem conhecida pelos navegantes. Nela existe um grande e lindo farol, cuidado por um faroleiro que vive isolado com a sua familia. Deu para imaginar as tempestades que essas pessoas já viram.Bem na virada do farol eu encontrei dois barcos parados com pessoas pescando, aparentemente turistas. Cheguei bem perto, todos me cumprimentaram, perguntaram o que eu estava fazendo e se eu estava bem. Contei que estava no segundo dia da remada de volta da Ilhabela, que iria remar até a Praia da Figueira e teria mais 2 dias pela frente. Senti um olhar apreensivo do capitão. E em seguida ele me diz:‍Amanhã uma grande tempestade vai chegar, com vento e maré cheia de 1,7m. Avance o máximo que você puder hoje.‍‍Agradeci o conselho, me despedi e continuei remando. Aquele aviso me deixou apreensivo… eu estava acompanhando constantemente as previsões até ontem e a princípio teriam mais 3 dias de tempo bom… Talvez ele estivesse errado ou o tempo realmente iria mudar drasticamente muito antes que o previsto…‍Segui remando para o próximo objetivo: cruzar a Ponta da Pirabura, onde existe também um pequeno farol. Nesse local que aconteceu o maior naufrágio da história do nosso país. Morreram 477 pessoas e foi considerado na época o “Titanic Brasileiro”.A tragédia aconteceu no ano de 1916, quando após um forte temporal, somado a um denso nevoeiro, fez o transatlântico espanhol Príncipe das Astúrias – que transportava passageiros e cargas entre Barcelona e Buenos Aires – se chocar com a laje da Ponta da Pirabura. Essa laje possui 5 metros de profundidade e se extende por uns 200 metros longe da Ponta até cair abruptamente para até 50 metros de profundidade. E foi exatamente nesse degrau que o navio se chocou.Remar sobre a laje da Pirabura foi pior que passar pela Ponta do Boi, o mar estava bem mais mexido e com ondas maiores. Eu ficava imaginando o naufrágio que estava ali, bem embaixo de mim, a loucura que deveria ter sido aquela situação e a tal tempestade anunciada pelo pescador. O que eu mais queria no momento era sair o mais rápido desse lugar! Mirei o barco para a próxima ponta, a Ponta Pirassununga, que é a entrada para a Baia de Castelhanos e segui remando forte!Passando pela Pta Pirassununga, comecei a ver outros barcos e o mar acalmou um pouco. Olhei para dentro da baía e vi lá no fundo a Praia da Figueira à uns 50 minutos de distancia, que era o meu plano inicial de parada e pernoite. Mas o aviso do pescador não parava de martelar na minha cabeça… Olhei para o lado oposto da baia, a Pta da Cabeçuda, quase apagada no horizonte por causa da distância e pensei: Vou seguir o conselho do pescador, cruzar essa baía, dormir em outra praia bem mais para frente e me preparar para terminar essa circum-navegação amanhã! Esse temporal não vai me pegar!Remei por mais 2 horas, e cheguei no Saco do Eustáquio morto e já sem água para beber, mas sabia que a partir desse lugar se no dia seguinte eu remasse com bastante disposição, já seria possível chegar em São Sebastião e concluir a remada.O Saco do Eustáquio é um famoso local de parada de barcos e é o lugar mais abrigado da parte leste da Ilhabela. Lá existe uma pequena comunidade de pescadores com um restaurante que serve frutos do mar e peixe fresco para os turistas que chegam de barco.Contei um pouco o que eu estava fazendo e perguntei se teria algum problema se eu dormisse por lá essa noite. Eles me indicaram a sombra de uma árvore para montar a barraca e disseram que eu poderia usar o banheiro e a ducha da praia. Prefeito para mim!‍Um pouco antes de anoitecer, logo após todos as lanchas e Iates zarparem e a praia ficar vazia novamente, uma senhora veio conversar comigo. Disse que receberam um aviso pelo rádio que amanha iria chegar um temporal e era para eu tomar cuidado. Exatamente o que o pescador da Ponta do Boi havia me dito! Disse também que a previsão era que ficaria bem ruim a partir das 12:00 e que às 10:00 eles iriam sair de lá com um barco de pesca em direção ao continente e que eu estava convidado para ir junto. Agradeci o aviso e o convite, e falei que iria sair amanhã bem cedo para tentar entrar no canal de São Sebastiao antes da virada de tempo e assim ficar seguro, mas se a tormenta adiantar e não tiver condições de remar que eu aceitaria o convite.‍Montei acampamento, comi uma comida pronta embalada a vácuo que eu tinha levado (Vapza), sem esquentar mesmo para não precisar organizar as tralhas de cozinha e me enfiei dentro da barraca de bivaque que parece mais um saco de dormir com varetas do que uma barraca propriamente dita. Mas é super leve e compacta! Para levar no surfski é ideal.Terceiro dia: Saco do Eustáquio – Baía do Araçá (São Sebastião)Distancia: 40,47kmDuração: 8h30 (com 4 paradas de 5 minutos em Jabaquara, Armação, Saco da Capela e Pontal da Cruz)Velocidade média: 6km/hDurante a madrugada, perto das 2:30 começou a cair uma baita chuva e comecei a achar que poderia ser a tempestade chegando. A partir desse horário não dormi mais… E às 5:00 resolvi levantar para começar a remar o quanto antes. Comi de café da manha o resto da batata doce e da carne de porco que tinha sobrado do jantar para não perder tempo, fechei acampamento debaixo de chuva, guardando tudo molhado no barco e às 6:00 em ponto, com os primeiros raios de sol aparecendo no horizonte comecei a remar!‍O objetivo inicial era passar pela Ponta Grossa, parar na praia do Poço – 10 km para frente – e ir avançando de praia em praia conforme fosse possível. O mar estava liso, com uma chuva fina e constante que refletia o laranja do nascer do sol. Uma cena linda! Vi uma tartaruga logo que sai da baía do Saco do Eustáquio e estava me sentindo muito bem naquela hora, apesar de todo o suspense e tensão da chegada da tempestade, estava muito feliz de estar ali, foi o momento mais lindo de toda a expedição.Remei por 1h30 passando a Ponta Grossa e ao invés de parar na Praia do Poço resolvi continuar remando. 30 minutos depois passei na praia da Fome e foi a mesma coisa, estava me sentindo forte e o mar estava bom e coloquei uma próxima meta: chegar na próxima praia. E assim 2h30 e 16km depois de Sair do Eustáquio aportei na areia da Praia do Jabaquara.Pisei na areia e tive uma breve sensação de que já tinha escapado do pior, e que daqui para frente seria tranquilo, lá pegava até sinal 3G! Mas poucos minutos depois começou entrar um vento Sul forte que me fez cair na real instantaneamente. Estava chegando o temporal e eu não conseguiria virar a Ponta das Canas – local famoso para os velejadores por causa dos ventos fortes – se esse vento sul aumentasse de intensidade. Não fiquei nem 5 minutos descansando e sai remando bem forte com a próxima meta de chegar na Praia da Armação!Quanto mais eu me aproximava da Ponta das Canas mais o vento apertava, a situação da remada mudou completamente. Eu remava o máximo possível colado nas rochas para me proteger do vento e não dava para saber se seria possível chegar ou se eu teria que voltar a favor do vento e ficar na Praia do Jabaquara até a tempestade parar, o que poderia levar alguns dias. Resolvi colocar o máximo de energia possível, remando bem forte para chegar o quanto antes na Armação, sem poupar esforço, pois lá a Marcela poderia chegar de carro para me pegar se fosse preciso e estaria em segurança.Levei 1h20 para remar 7,5km, e chegar na Praia da Armação. Fui bem rápido, me custou bastante energia, mas eu estava em uma situação bem mais controlada agora. Foram no total 24,50km em 3h45 de remada desde do Saco do Eustáquio. Liguei para a Marcela, falei que estava tudo bem e que a partir de agora eu iria seguir tentando avançar o máximo que desse em direção a Barequeçaba e que caso a situação ficasse impossível eu avisaria para me pegar em algum lugar.Segui remando contra o vento costeando a Ilhabela por mais 1h30 e parei para descansar um pouco depois do centro. Naquele momento entrou um sol e o vento diminuiu, e eu pensei: Essa é a hora de cruzar os 5km do canal em direção ao continente! Pulei literalmente no surfski e sai remando forte mirando o centro histórico de São Sebastião. Mas parecia piada, literalmente 50 metros após, entrou o vento mais forte do que nunca. Eram 11hs da manha e a tempestade de vento sul com maré cheia de sul tinha chegado de vez e bem quando eu estava no meio do canal!‍Chuva e ventoColoquei novamente tudo que eu tinha e o que eu não tinha de energia para sair daquela situação. O mar estava parecendo uma máquina de lavar e eu estava sendo arrastado para o norte. Não conseguia ter certeza se apesar disso eu estava avançando lateralmente em direção a costa oposta, e isso era bem tenso. Comecei a considerar um plano B de virar em direção a Caraguatatuba e remar a favor do vento até alguma praia distante. Tentei mais um pouco e percebi que existia uma potencia de remada que se fosse mantida eu estaria avançando, mas que se fosse menor eu andaria para trás. Foquei o olhar em uma casa laranja, equilibrei meus pensamentos e remei com tudo! 1h15 depois cheguei na praia do Pontal da Cruz, ha 2,5km ao norte do lugar que eu pretendia chegar ao começar a travessia do canal!Descansei por 15 minutos e resolvi continuar remando em direção a Barequeçaba. Fui avançando lutando contra o vento até passar pelo porto aonde a Balsa cruza o canal. Esse é o local aonde possui a corrente mais forte de todo canal de São Sebastião e eu me deparei de uma vez por todas com a temida combinação de Vento com maré cheia vindo da direção Sul. Lá, acho que entrei no olho da tempestade. Parei eu uma prainha micra que nem nome tem, a apenas 200 metros da praia Preta e liguei para a Marcela avisando para ela me pegar nessa próxima praia. Apesar de estar a uns 3km de Barequeçaba não tinha como seguir mais. Totalmente impossível para um barco a remo seguir naquela direção. Disse que em 15 a 20 minutos chegaria.Mas quando voltei para o mar para remar esses últimos 200 metros, a mãe natureza acho que resolveu me dar uma basta! Entrei em uma corrente que parecia que eu estava em uma corredeira fazendo rafting, só que no contra-fluxo. Remei na intensidade máxima que eu conseguia! Comecei a gritar de força, mas se passaram 5 minutos eu não tinha saído do lugar! O jeito era atracar na baia do Araçá, a poucos metros antes e encontrar a Marcela por lá. Virei o surfski a favor do vento e como um foguete, cheguei nessa baia, em uns 2 minutos acho. Parei no quintal de uma casa de pescador que me ajudou a tirar o barco da água. Eu já estava no mar remando ha 8h30! sendo que metade disso foi lutando contra o vento!‍E assim terminei a circum-navegação da Ilhabela sozinho em um Surfski em 3 dias. E a credito que fui a primeira pessoa a fazer isso dessa forma (sozinho e em um surfski).Não terminei em Barequeçaba como gostaria e estava projetando na minha cabeça, com um final triunfante com a minha filha e minha mulher me esperando na areia e todos os louros imagináveis, mas completei a circunferência toda da Ilhabela e voltei para casa em segurança! Se aventurar na natureza é assim nossas expectativas são sempre um mero detalhe!Dedico essa aventura a minha filha Gabi que fez 30 dias de vida no dia que eu completei a expedição. Te amo filha!‍DicasSempre tento incluir no planejamento começar o dia com uma primeira parada após 1 hora de remada, pois esses minutos iniciais são o momento de testar tudo, equipamento, posição, roupas e etc. assim você terá tempo para ajustar o que precisar antes de algum longo trecho sem possibilidade de paradas.Converse com os moradores locais. As informações mais preciosas sempre saem dai.Equipamentos2 pares de remos1 colete salva vidas1 Spot Gen3leash para remo e barcoSurfski Epic V7Saco estanque de 50 LApito, cobertor de emergencia, espelho refletor, bússolaRelógio Garmin Fenix 5XHead lampBarraca Bivaque The North FaceIsolante Térmico e sleeping bag extra leveFogareiro Aztec, talheres, pederneira e isqueiroBoné, camiseta manga longa proteção UV, óculos de sol e protetor solarRepelenteRecipientes para pelo menos 3 litros de águaBaterias portátil, Celular, Gopro Hero6‍‍‍
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